Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Dad Squarisi | 30 de abril de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Viva! Pelé virou palavra de dicionário. O Michaelis incluiu o verbete na edição digital. Quando for publicada a impressa atualizada, o rei do futebol estará lá. Agora, o apelido de Edson Arantes do Nascimento virou adjetivo ou substantivo comum.
Eis o verbete:
“pe.lé® adj m+f sm+f Que ou aquele que é fora do comum, que ou quem em virtude de sua qualidade, valor ou superioridade não pode ser igualado a nada ou a ninguém, assim como Pelé®, apelido de Edson Arantes do Nascimento (1940-2022), considerado o maior atleta de todos os tempos; excepcional, incomparável, único. Ele é o pelé do basquete. Ela é a pelé do tênis. Ela é a pelé da dramaturgia brasileira.”
Outros casos
A língua tem outros casos de substantivos próprios que viram comuns. Aí, tal qual o pelé do verbete, escrevem-se com a inicial minúscula. É o caso de malhação do judas, nossos judas de cada dia, castanha-do-pará, joão-de-barro, maria vai com as outras, banho-maria, amélia, xerox (sinônimo de cópia).
Como é?
O leitor Tony Peter Floriano escreve: “Fico um pouco incomodado com frases que expressam ordens com verbos no infinitivo. Por exemplo: Favor fechar a porta. Parece que falta um verbo conjugado. Não seria melhor usar o imperativo? Assim: Por favor, feche a porta”.
Tony, a língua é um sistema de possibilidades. Generosa, oferece várias opções de dar o recado. O falante escolhe. Quanto mais conhecimentos tiver, mais livre será. Ele poderá escolher entre uma forma e outras. É o exercício de liberdade. O resultado só pode ser um — acertar ou acertar.
O infinitivo não foge à regra. Há dois jeitos de mandar e desmandar. Um: o infinitivo. O outro: o imperativo. Um e outro merecem nota 10. A escolha depende do gosto do freguês. Até Deus sabe disso. Nos Dez Mandamentos, Ele ordena:
1. Amar a Deus sobre todas as coisas;
2. Não tomar Seu santo nome em vão;
3. Honrar pai e mãe;
4. Não matar;
5. Não pecar contra a castidade;
6. Não desejar a mulher do próximo.
…
Outro jeito
Viu? Os mandamentos começam com verbo no infinitivo. Há outra forma de dar o mesmo recado. Ela conjuga o verbo. No caso, todos os mandamentos vão para o imperativo:
1. Ame a Deus sobre todas as coisas;
2. Não tome Seu santo nome em vão;
3. Honre pai e mãe;
4. Não mate;
5. Não peque contra a castidade;
6. Não deseje a mulher do próximo.
…
Olho vivo
Peca-se contra o paralelismo quando se misturam alhos com bugalhos. É o caso de mesclar o infinitivo com o imperativo:
1. Ame a Deus sobre todas as coisas;
2. Não tomar seu santo nome em vão;
3. Honrar pai e mãe;
4. Não matar;
5. Não pecar contra a castidade;
6. Não deseje a mulher do próximo.
…
Reparou? É a receita do cruz-credo. O autor criou um samba de confusão. Nada feito. Fique com uma ou outra. Dê às ordens a mesma forma. Misturar é proibido.
Leitor pergunta
Minha dúvida: cinquenta porcento ou por cento? – Rosângela dos Santos, Santos-SP
Percentagem ou porcentagem? Tanto faz. A primeira forma se inspirou no inglês. Na língua de Shakespeare, dizem percentage, filhote de per cent. A segunda vem da terrinha. Em Pindorama, dizemos por cento. Daí porcentagem.
E a escrita? Há duas formas. Uma: com todas as letras. É o caso de sessenta por cento. A outra: com algarismos – 60%. Qual a melhor? A segunda. Ela tem duas vantagens. A primeira: é econômica. A segunda: é de leitura rápida. São exigências do mundo moderno.
A maior exigência, porém, é a clareza. Diante dela, cessa tudo que a musa antiga canta. Se escrever mais de um valor da porcentagem, esbanje. Repita o sinal em cada um deles: Os salários devem subir entre 1% e 3% (nunca entre 1 e 3%). Os descontos vão de 10% a 50%. Uns 30% ou 40% da população vivem com um salário mínimo.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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