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Pelé no dicionário

(Foto: Reprodução)

Viva! Pelé virou palavra de dicionário. O Michaelis incluiu o verbete na edição digital. Quando for publicada a impressa atualizada, o rei do futebol estará lá. Agora, o apelido de Edson Arantes do Nascimento virou adjetivo ou substantivo comum.

Eis o verbete:

“pe.lé® adj m+f sm+f Que ou aquele que é fora do comum, que ou quem em virtude de sua qualidade, valor ou superioridade não pode ser igualado a nada ou a ninguém, assim como Pelé®, apelido de Edson Arantes do Nascimento (1940-2022), considerado o maior atleta de todos os tempos; excepcional, incomparável, único. Ele é o pelé do basquete. Ela é a pelé do tênis. Ela é a pelé da dramaturgia brasileira.”

Outros casos

A língua tem outros casos de substantivos próprios que viram comuns. Aí, tal qual o pelé do verbete, escrevem-se com a inicial minúscula. É o caso de malhação do judas, nossos judas de cada dia, castanha-do-pará, joão-de-barro, maria vai com as outras, banho-maria, amélia, xerox (sinônimo de cópia).

Como é?

O leitor Tony Peter Floriano escreve: “Fico um pouco incomodado com frases que expressam ordens com verbos no infinitivo. Por exemplo: Favor fechar a porta. Parece que falta um verbo conjugado. Não seria melhor usar o imperativo? Assim: Por favor, feche a porta”.

Tony, a língua é um sistema de possibilidades. Generosa, oferece várias opções de dar o recado. O falante escolhe. Quanto mais conhecimentos tiver, mais livre será. Ele poderá escolher entre uma forma e outras. É o exercício de liberdade. O resultado só pode ser um — acertar ou acertar.

O infinitivo não foge à regra. Há dois jeitos de mandar e desmandar. Um: o infinitivo. O outro: o imperativo. Um e outro merecem nota 10. A escolha depende do gosto do freguês. Até Deus sabe disso. Nos Dez Mandamentos, Ele ordena:

1. Amar a Deus sobre todas as coisas;

2. Não tomar Seu santo nome em vão;

3. Honrar pai e mãe;

4. Não matar;

5. Não pecar contra a castidade;

6. Não desejar a mulher do próximo.

Outro jeito

Viu? Os mandamentos começam com verbo no infinitivo. Há outra forma de dar o mesmo recado. Ela conjuga o verbo. No caso, todos os mandamentos vão para o imperativo:

1. Ame a Deus sobre todas as coisas;

2. Não tome Seu santo nome em vão;

3. Honre pai e mãe;

4. Não mate;

5. Não peque contra a castidade;

6. Não deseje a mulher do próximo.

Olho vivo

Peca-se contra o paralelismo quando se misturam alhos com bugalhos. É o caso de mesclar o infinitivo com o imperativo:

1. Ame a Deus sobre todas as coisas;

2. Não tomar seu santo nome em vão;

3. Honrar pai e mãe;

4. Não matar;

5. Não pecar contra a castidade;

6. Não deseje a mulher do próximo.

Reparou? É a receita do cruz-credo. O autor criou um samba de confusão. Nada feito. Fique com uma ou outra. Dê às ordens a mesma forma. Misturar é proibido.

Leitor pergunta

Minha dúvida: cinquenta porcento ou por cento? – Rosângela dos Santos, Santos-SP

Percentagem ou porcentagem? Tanto faz. A primeira forma se inspirou no inglês. Na língua de Shakespeare, dizem percentage, filhote de per cent. A segunda vem da terrinha. Em Pindorama, dizemos por cento. Daí porcentagem.

E a escrita? Há duas formas. Uma: com todas as letras. É o caso de sessenta por cento. A outra: com algarismos – 60%. Qual a melhor? A segunda. Ela tem duas vantagens. A primeira: é econômica. A segunda: é de leitura rápida. São exigências do mundo moderno.

A maior exigência, porém, é a clareza. Diante dela, cessa tudo que a musa antiga canta. Se escrever mais de um valor da porcentagem, esbanje. Repita o sinal em cada um deles: Os salários devem subir entre 1% e 3% (nunca entre 1 e 3%). Os descontos vão de 10% a 50%. Uns 30% ou 40% da população vivem com um salário mínimo.

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