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Por Redação O Sul | 29 de janeiro de 2021
O ano de 2020 foi marcado pela pandemia da Covid-19, mas também por um recrudescimento da violência contra pessoas transgênero no Brasil. Ao longo do ano passado, foram registrados 175 assassinatos, todos de mulheres transexuais e travestis. Os dados fazem parte do dossiê anual feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), e divulgado nesta sexta-feira (29), Dia Nacional da Visibilidade Trans.
Com os números registrados em 2020, o Brasil segue na liderança do ranking mundial de assassinatos de pessoas trans no mundo, posição que ocupa desde 2008, conforme dados internacionais da ONG Transgender Europe (TGEU). Entre 2017 e 2020, quando a Antra começou a publicar o dossiê anual, foram contabilizados 641 assassinatos de pessoas trans no Brasil.
O número de mortes em 2020 é superior ao registrado em 2019 (124) e 2018 (163), e ligeiramente inferior ao registrado em 2017 (179), de acordo com o levantamento feito pela em parceria com o Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE). Além disso, no ano passado, foram registradas 77 tentativas de homicídio em relação à população trans no país.
Em 2020, a Antra adotou uma nova forma de divulgação, publicando boletins bimestrais com o número de assassinatos. Com isso foi possível perceber que, somente nos primeiros oito meses do ano, 129 pessoas trans haviam sido assassinadas no Brasil, um número maior do que o total de mortes documentadas em 2019 e que representou um aumento de 70% em relação a igual período do ano anterior. No ano passado, não foram encontradas informações de assassinatos de homens trans ou pessoas transmasculinas nas pesquisas realizadas pela Antra.
O dossiê é feito a partir de pesquisa dos casos registrados em reportagens na imprensa, de forma manual, individual e diária. Há, ainda, aqueles casos em que não há cobertura da mídia. Nessas situações, as informações são coletadas junto a instituições de defesa dos direitos LGBTI+ parceiras da Antra espalhadas pelo Brasil. Por isso, a associação reforça a necessidade de se relembrar “exaustivamente a subnotificação e ausência de dados governamentais” sobre mortes de pessoas trans no Brasil.
“Os dados não refletem exatamente a realidade devido à subnotificação, que aumentou, mas demonstram, a partir desta pesquisa, que o Brasil vem passando por um processo de recrudescimento em relação à forma com que trata travestis, mulheres transexuais, homens trans, pessoas transmasculinas e demais pessoas trans”, afirma a secretária de articulação política da Antra, Bruna Benevides.
Em números absolutos, São Paulo foi o estado que mais matou a população trans em 2020, com 29 assassinatos — um aumento de 38% em relação a 2019. Na sequência, o Ceará, com 22 casos, ou seja, um aumento de 100% em relação ao ano anterior. Depois, Bahia, com 19 mortes, e aumento de 137,5% na mesma comparação; Minas Gerais, que saiu de cinco casos para 17; e o Rio de Janeiro, que se manteve na 5ª posição, indo de sete casos para 10 em 2020 — aumento de 43%.
Em 2020, 71% dos assassinatos aconteceram em espaços públicos, tendo sido identificado que pelo menos 8 vítimas se encontravam em situação de rua. Também foi identificado que pelo menos 72% dos assassinatos foram direcionados contra travestis e mulheres transexuais profissionais do sexo, que são as mais expostas à violência direta.