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Perda cardiorrespiratória é mais evidente após os 60 anos de idade

Idade prejudica capacidade de o corpo fazer ajustes fisiológicos. (Foto: Freepik)

Estudo feito com 118 pessoas saudáveis de diferentes faixas etárias mostra que é a partir dos 60 anos que se tornam mais evidentes os prejuízos causados pelo envelhecimento no controle da frequência cardíaca em repouso e na aptidão cardiorrespiratória, ou seja, na capacidade do corpo de captar (sistema respiratório), transportar (sistema cardiovascular) e consumir (músculos) oxigênio durante o exercício físico.

“Em nosso estudo, buscamos investigar as mudanças decorrentes do processo de envelhecimento de forma integrada. Ao analisar esses três componentes concomitantemente, descobrimos um possível ponto de virada do envelhecimento aos 60 anos”, afirma Aparecida Maria Catai, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenadora da pesquisa.

“Embora a senescência seja um processo que dure décadas, é principalmente após os 60 anos que as alterações nos três componentes analisados se tornam mais significativas.”

O trabalho, que teve apoio da Fapesp, foi publicado na revista Scientific Reports.

“Com o passar do tempo, o organismo, mesmo em pessoas saudáveis, vai apresentando alguns comprometimentos. Por isso, vão sendo realizados alguns ‘ajustes fisiológicos’ para que ele permaneça em equilíbrio (homeostase). No entanto, esses mecanismos são limitados e vão se exaurindo com o avançar da idade”, diz Étore de Favari Signini, também autor do artigo.

O grupo observou que alguns metabólitos podem estar associados à mitigação dos efeitos do envelhecimento. “Trata-se do aumento significativo, na faixa entre 60 e 70 anos, dos níveis séricos de ácido hipúrico, um metabólito associado a uma série de funções diferentes, entre elas a diversidade da microbiota intestinal e a saúde metabólica”, diz o pesquisador. O achado pode contribuir para novas estratégias para reduzir efeitos nocivos do envelhecimento.

Os pesquisadores ressaltam que, embora o aumento desse metabólito possa indicar prejuízos na função renal, estudos recentes têm proposto que o ácido hipúrico pode ser um marcador e um mediador da saúde metabólica.

Pode, portanto, ter relação com a complexidade da microbiota intestinal (com influência direta na absorção de nutrientes no intestino) e um possível efeito protetor sobre células do pâncreas.

“Como se tratavam de idosos aparentemente saudáveis, sem nenhum indicativo de comprometimento renal, sugerimos que o aumento do ácido hipúrico estaria ligado ao enriquecimento da microbiota intestinal e, por consequência, à melhor absorção de nutrientes no intestino”, afirma o pesquisador. “Sabemos que, quanto melhor a absorção intestinal de nutrientes, considerando o contexto de envelhecimento, melhor a saúde do organismo no geral”, acrescenta.

Suplementação

Outro aspecto importante investigado foi a redução de aminoácidos essenciais, como valina, leucina e isoleucina – conhecidos pela sigla BCAAs.

“O decaimento de BCAAs no envelhecimento saudável pode estar atrelado a uma estratégia do organismo para se preservar. Sabemos que os BCAAs estão diretamente ligados à síntese proteica. E, com o envelhecimento, a atividade anabólica vai decaindo”, diz.

Signini ressalta que os benefícios de uma suplementação desses aminoácidos em idosos, com o favorecimento da síntese proteica, ainda é alvo de debates. “A redução da atividade anabólica (que nesse contexto tem relação com a redução dos níveis de BCAAs séricos) também tem sido destacada, até certo ponto, como benéfica segundo alguns estudos”, diz.

“Pesquisas têm apontado que a atividade anabólica acentuada no contexto em que há diversos comprometimentos na maquinaria celular, como, por exemplo, na função de organelas e de enzimas, pode trazer consequências indesejadas, entre elas o câncer”, diz.

Os 118 voluntários foram divididos em cinco grupos etários (20-29 anos, 30-39, 40-49, 50-59, 60-70). Foram incluídos em todas as faixas etárias só participantes aparentemente saudáveis – portanto, sem diagnóstico de comprometimento cardiovascular, respiratório ou relacionado ao metabolismo, como síndrome metabólica, obesidade ou diabete.

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