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“Pergunte para o Temer”, disse Bolsonaro ao ser questionado sobre o reajuste dos salários do Supremo

Analistas mencionam estratégia do presidente eleito (D) em se "descolar" do atual mandatário (E). (Foto: Rogério Melo/PR)

Em entrevista à imprensa em Brasília nessa terça-feira, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que toda população pagará a conta do reajuste salarial de 16,83% para os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele evitou fazer comentários sobre o assunto mas não deixou de responsabilizar o presidente Michel Temer pela decisão de autorizar o aumento, no dia anterior.

“Pergunta para o Temer, foi ele que sancionou”, respondeu o seu sucessor ao ser indagado sobre o assunto. Após os jornalistas insistirem na pergunta, dizendo que a gestão de Bolsonaro arcará com as despesas-extras geradas pelo efeito-cascata, ele frisou: “Toda a população vai pagar a conta, não vai ser só eu”.

Ele disse, ainda, que sua responsabilidade em relação ao assunto só começará no dia 1º de janeiro do ano que vem, quando assumirá a Presidência da República. Em relação ao orçamento federal, Jair Bolsonaro disse que vai ter que ajustar tudo agora para evitar modificações no próximo ano. “É possível mexer no orçamento no ano que vem, mas o que já pudermos fazer será melhor”, declarou.

Afastamento

De forma diferente do que havia indicado semanas atrás, Jair Bolsonaro adotou um distanciamento em relação a Michel Temer (MDB). Trata-se de uma estratégia, admitem integrantes da equipe de transição. À medida em que evita proximidade com o emedebista, o governo de transição evita participar de decisões que o atual chefe do Palácio do Planalto possa adotar, a exemplo do próprio reajuste concedido ao STF.

No dia 7, Bolsonaro e Temer se encontraram no Palácio do Planalto. Em pronunciamento à tarde, o futuro presidente disse que procuraria o atual detentor do cargo “mais vezes” até o fim do ano para que, juntos, fizessem a transição “de modo que os projetos de interesse do nosso Brasil continuem fluindo dentro da normalidade”.

Foi a última e única vez, no entanto, em que eles se reuniram desde a vitória do presidente eleito nas urnas. Na noite daquela mesma quarta-feira, o Senado aprovou o reajuste dos ministros do STF, que também se estende à procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

De acordo com analistas, o descolamento de Temer protege Bolsonaro da impopularidade da sanção do reajuste, apenas para citar um dos motivos. “Se tivesse mantido um contato próximo, a interpretação poderia ser outra”, explica.

Outra pauta que desagrada a equipe do presidente eleito é a Rota 2030, que estabelece um regime tributário especial para o setor automotivo, com incentivos fiscais às montadoras. A matéria foi aprovada em 8 de novembro, no Senado. Como Temer tem 15 dias úteis para sancionar matérias aprovadas no Congresso, o emedebista tem até quarta-feira para ratificar ou vetar a proposta de reajuste ao Judiciário e até quinta-feira para decidir sobre a Rota 2030.

A postura da equipe política de Bolsonaro não é diferente. O futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), coordenador do gabinete de transição, reuniu-se com o atual titular da pasta, Eliseu Padilha (MDB), no dia 5. Uma semana depois do encontro, disse que o governo eleito começa apenas em 1º de janeiro e que o “atual presidente do País tem que cumprir sua missão até 31 de dezembro”.

Na última segunda-feira, havia uma previsão de encontro entre Padilha e o futuro ministro-chefe da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno. A reunião foi cancelada “por problemas de agenda” e não foi remarcada ao longo da semana. Bebianno manifestou o desejo de se reunir nesta semana com o atual titular da pasta, Ronaldo Fonseca, mas ainda não há confirmação.

O distanciamento preventivo de Bolsonaro pode até ser estratégico, mas também adia a construção de apoio junto à base no Congresso Nacional. É o que avalia o analista político Antônio Augusto, diretor de documentação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). Normalmente, um presidente conta com a boa vontade do Legislativo por um período de seis meses, mas, para o especialista, essa “lua-de-mel” já está valendo.

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