Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Tito Guarniere | 12 de abril de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Que o mundo não seria mais o mesmo era fácil prever, com Donald Trump no governo dos Estados Unidos. Bastava que ele levasse a sério uma pequena parte das suas concepções e do que ele afirmava para o povo americano e para o mundo, e já teríamos um formidável rebuliço no estado das coisas.
Mas é que Trump na prática foi muito além. Poderíamos ter ficado na reiterada ameaça de tomar a Groenlândia ou de anexar o Canadá , e já teríamos assuntos de arrepiar os pelos.
Parecem bravatas de campanha, mas ele extrapolou todos os limites, mesmo para um homem que tem especial atração por bravatas. Mas não, cada um dos assuntos escabrosos que ele pontua, sem pejo e sem vergonha, faz parte de seu arsenal de obsessões.
As suas relações com Vladimir Putin vão muito além de qualquer medida. Na lógica, os embates entre os EUA e a Rússia prosseguiriam com altos e baixos, como têm sido há bastante tempo. Era de se esperar que os EUA mantivessem o apoio à Ucrânia de Zelenski na guerra do Leste Europeu. Eu disse guerra, mas o certo é falar de invasão russa na Ucrânia.
Trump, quando se ocupa da matéria, deixa claro que virou casaca: quer a paz, mas uma paz favorável às pretensões da Rússia de Putin.
O fato é que, baseado em premissas duvidosas, senão falsas, Trump detonou uma ordem mundial que, com suas imperfeições e defeitos, entretanto, fazia o mundo funcionar de forma bem razoável. Uma ordem mundial que era de todo o interesse da potência americana. Aí, apareceu um louco rasgando dinheiro,
Quando ele diz que os EUA foram explorados pelo resto do mundo nestes últimos 40 anos, parece que ele fala sério e acredita no que diz. Temos então que os EUA, durante todo o século passado e no atual, era acusado de espoliar o mundo, fazendo prevalecer pela força e poderio os seus interesses, a potência imperialista por excelência. Trump, do nada, inverte a equação : são os outros países que se aproveitam da grandeza da América para explorá-la. É patético.
O mundo se organizou do modo como está ao longo do tempo, em intermináveis reuniões bi e multilaterais, em tempos de normalidade ou em momentos de crise, que mudaram e ainda estão em constante evolução, uma construção histórica admirável.
Aquela foto de Trump expondo a tabelona de novas tarifas, bastaria para amarrá-lo em uma camisa de força, pois é provável que tenha lançado os EUA e boa parte do mundo numa aventura convulsiva, numa confusão intransponível, bolada por um economista em estado etílico, um louco em estado de fúria, um estadista ensandecido.
Como um país da grandeza e da complexidade dos EUA, de instituições sólidas , construídas não no improviso mas em adensado tempo histórico, podem ter permitido que um homem sozinho se permitisse a tal destempero, tenham ignorado os riscos de tal e inconsequente exorbitância? Não havia ninguém para alertar de que não tem como dar certo e dizer que o rei está nu?
Ao menos agora os americanos parecem ter acordado, pois a reação só pode vir de dentro: saíram às ruas aos milhares nas grandes cidades. Mais do que uma onda de protestos esperemos que seja o começo de uma reviravolta que acorde o mundo do pesadelo.
(titoguarniere@terra.com.br)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.