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Por Redação O Sul | 25 de junho de 2020
O mapa apresenta o número absoluto de casos da doença em cada território de unidades de saúde da SMS.
Foto: ReproduçãoPesquisadores estão monitorando, através de análise molecular, a ocorrência e a quantificação do coronavírus em águas brutas e residuais no Rio Grande do Sul. O objetivo dos estudos, inéditos no Estado, é intensificar a vigilância epidemiológica do coronavírus em efluentes e mananciais e dar suporte às autoridades de saúde, ao longo da pandemia. Isso aumentará a compreensão da dinâmica viral e auxiliará na tomada de decisão das medidas de prevenção, além de fornecer elementos que contribuam para a investigação da hipótese de transmissão fecal-oral ou fecal-respiratória.
O projeto, desenvolvido a partir de um convênio firmado entre a Universidade Feevale e o CEVS (Centro Estadual de Vigilância em Saúde), teve início em Porto Alegre e na Região Metropolitana, mas a previsão é reproduzir os estudos em outros pontos do Estado. As amostras analisadas na pesquisa Plano de monitoramento de Covid-19 no ambiente são de ponto de captação de água bruta, corpo hídrico altamente impactado por esgoto doméstico, afluente e efluente de esgoto sanitário e efluente hospitalar. As coletas são realizadas pelos órgãos municipais e estaduais envolvidos na pesquisa e os testes ocorrem no Laboratório de Microbiologia Molecular da Feevale.
Segundo Caroline Rigotto, professora do mestrado em Virologia da Feevale e coordenadora do projeto, ao lado de Aline Campos, chefe da Divisão Vigilância Ambiental em Saúde do CEVS, a ideia é estender o monitoramento por 10 meses, permitindo acompanhar a ocorrência e a distribuição do vírus ao longo da pandemia e das diferentes sazonalidades. “São esperados desdobramentos em estudos genômicos e de modelagem matemática ambiental para diagnóstico coletivo”, afirma Caroline.
Primeiros resultados
A pesquisa teve início em 11 de maio e, na semana passada, ocorreu a terceira rodada de análises moleculares para detecção do coronavírus em amostras de águas residuais e superficiais coletadas em Porto Alegre. Nesta semana, está prevista a coleta em Novo Hamburgo.
Até o momento, foram analisadas 29 amostras coletadas em 10 pontos de coleta, distribuídos em duas ETE (Estações de Tratamento de Esgoto), duas EBE (Estações de Bombeamento de Esgoto), um manancial altamente impactado e quatro hospitais. Também foram incluídas duas amostras coletadas em uma ETA (Estação de Tratamento de Água). Dessas 29 amostras analisadas, cinco apresentaram resultados positivos (17%). As amostras positivas foram coletadas em uma EBE, uma ETE e um hospital.
A pesquisadora Caroline Rigotto lembra que esses resultados são preliminares, mas destaca que, quando comparados os dados entre as três primeiras semanas de coleta, é possível observar um aumento do percentual de amostras positivas.
Em 11 de maio, Porto Alegre contava com 644 casos de Covid-19 e, em 3 de junho, com 1.367. “Nesse sentido, é possível inferir que a presença do vírus no esgoto sanitário apresentou comportamento de crescimento, acompanhando a epidemia na região”, salienta.
No ponto de monitoramento da EBE Baronesa do Gravataí houve a presença do vírus em 100% das amostras de esgoto bruto nas duas coletas realizadas. Já a maior porcentagem de amostras positivas ocorreu nos pontos de monitoramento na ETE São João/Navegantes, que corresponde à segunda unidade de esgotos de Porto Alegre em termos de capacidade de tratamento. Nas amostras analisadas em pontos de monitoramento dos efluentes de estabelecimentos hospitalares, por sua vez, verificou-se um resultado positivo na terceira semana de coleta.
Amostragem e processamento
A coleta de amostras é realizada por uma equipe colaborativa interinstitucional, composta, nesta primeira etapa, por técnicos do CEVS, da Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental), do Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos) de Porto Alegre, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade de Porto Alegre e da Secretaria Municipal de Saúde de Novo Hamburgo.
Em Porto Alegre, foram selecionados pontos estratégicos de coletas nos SES (Sistemas de Esgotamento Sanitário) que representassem a maior parte da população: Navegantes, Ponta da Cadeia e Salso. Neste último encontra-se a maior unidade de tratamento de esgoto do Rio Grande do Sul: a ETE Serraria, que integra as SES Ponta da Cadeia, Cavalhada, Zona Sul e Salso. Também foram selecionados quatro hospitais de grande porte – públicos e privados – que recebem pacientes com Covid-19.
Conforme a pesquisadora Caroline Rigotto, a coleta de amostras (simples ou composta de 24 horas) é realizada em frascos de vidro estéreis e armazenadas a 4°C durante ou após a amostragem. Os frascos contendo as amostras são transportados em caixa com gelo para o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) e, em seguida, ao Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, onde o material é analisado. São avaliados parâmetros físico-químicos e, após, as amostras passam por uma etapa de concentração viral, seguida por extração do RNA viral e posterior transcrição reversa para a quantificação da Reação em Cadeia pela Polimerase em tempo real (RT-qPCR).
Posteriormente, estudos genômicos por meio do sequenciamento do genoma completo das amostras positivas serão realizados no CDCT/CEVS (Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), permitindo a comparação com genoma de amostras clínicas de pacientes. O Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS também contribuirá nas análises moleculares e nos estudos genômicos do vírus ambiental.
Já a Fiocruz-RJ realizará o isolamento viral, pesquisando a viabilidade e eventual infectividade do vírus presente nas amostras ambientais. Em posse de dados que permitam uma análise estatisticamente representativa, técnicos do IPH/UFRGS (Instituto de Pesquisas Hidráulicas) realizarão estudos, de modo a contribuir na avaliação do impacto das intervenções adotadas e estudos de modelagem ambiental.
Caroline Rigotto ressalta que o grupo já está trabalhando no projeto de expansão da pesquisa.