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Por Redação O Sul | 22 de maio de 2019
Aumentar as habilidades ou dar aquela ajeitadinha a mais no currículo é bem mais comum do que se pensa. Um levantamento feito pela DNA Outplacement aponta que 75% dos currículos enviados aos “RHs” das empresas em 2018 no Brasil continham informações distorcidas. Episódios recentes de imprecisões no currículo, como o do governador Wilson Witzel e da pesquisadora Joana D’Arc Félix de Sousa, levantaram o debate sobre o tema. As informações são do jornal O Globo.
As práticas mais comuns de inflar o currículo são, segundo o levantamento: o valor do salário atual ou recebido no último emprego (48%) e a fluência no inglês (41%).
“O estudo identificou que a prática é comum tanto entre quem está entrando no mercado de trabalho quanto entre os que possuem carreira consolidada e estão em processo de recolocação. Os jovens normalmente não colocam tanto peso na elaboração de seu currículo, enquanto executivos e gerentes se agarram à urgência em conseguir uma nova oportunidade para cometer essa irregularidade”, explica Hugo Liguori, Diretor Regional da DNA.
A consultora Silvina Ramal, sócia da ID Projetos Educacionais, reforça que a fluência de idiomas certificados e diplomas, capacidade técnica em determinada área, resultados em empregos anteriores e questões comportamentais são as mentiras mais comuns.
“Também é rotineiro ver pessoas que garantem falsamente ter experiência na área e há aqueles que aumentam o valor do último salário ou que escondem a real razão da demissão. O endereço costuma ser outro item que provoca deturpações”, acrescenta a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos RJ (ABRH-RJ), Lucia Madeira.
Algumas inverdades e omissões são perdoáveis e têm conserto. Por exemplo, dizer que sabe um programa de computador e fazer um curso para se aperfeiçoar antes de começar o trabalho.
A questão é que mentira, já diz o ditado, “tem perna curta”. Uma hora alguém vai descobrir e isso pode não só resultar em demissão como queimar o filme do profissional no mercado.
De acordo com o Índice de Confiança da empresa de recrutamento Robert Half, 33% dos recrutadores eliminariam candidatos por conta de mentiras no currículo.
“Caso o candidato tenha sido contratado e durante o processo exagerou no conhecimento do idioma ou experiência em determinado programa, a consequência dependerá do grau de tolerância do empregador. Mas, sem dúvida, haverá o constrangimento e quebra de confiança, que pode culminar em desligamento”, afirma Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half.
Lucia reforça que, entre as qualificações de um profissional, a honestidade é um valor requisitado pelas organizações.
“A mentira é vista como trapaça. Hoje, por exemplo, vivemos um momento em que o desemprego permanece alto e essa pressão por uma vaga de trabalho pode levar alguém a pensar que falsear o currículo talvez o favoreça. Porém, mesmo que não seja descoberto na entrevista, cedo ou tarde isso poderá ocorrer. E, provavelmente, a pessoa será desligada.”
A frequência das mentiras fez com que os recrutadores também se tornassem mais sagazes. Fora as mentiras comuns e que são fáceis de serem checadas, como referências e certificados, os recrutadores têm ao seu dispor uma série de ferramentas para pegar os mentirosos em flagrante. A mesma pergunta feita de maneira diferente para ver se o candidato se contradiz, conversar no idioma que ele diz ser fluente e conhecer o mercado são algumas.
E, mesmo que o candidato seja nato em sua lábia, há outras formas de descobrir, como a linguagem não verbal. A psicóloga Monica Portella é pesquisadora da área cognitiva comportamental e autora do livro “Como Identificar a Mentira – Sinais não verbais da dissimulação”. Segundo ela, o comportamento não verbal é muito mais influente do que a maioria das pessoas admite.