Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de junho de 2023
Muitos funcionários fingem que estão trabalhando para parecer mais úteis, evitar demissão, conseguir promoção ou escapar de mais trabalho. A conclusão é de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela Visier, empresa especializada em soluções tecnológicas para recursos humanos. Segundo o levantamento, isso ocorre em um cenário de crescente pressão por mais produtividade, em que os trabalhadores sentem que não podem parecer que estão sem fazer nada.
Mexer na tela do computador só para não entrar no modo de descanso e responder a e-mails que não exigem uma ação imediata são considerados comportamentos performáticos pela pesquisa.
Entre os principais motivos para fingir que trabalham, 64% citam que é importante para o sucesso profissional e 41% afirmam que querem parecer mais valiosos para a empresa.
Ao longo de uma semana média de trabalho, 22% dos entrevistados disseram gastar quase metade do tempo (20 horas) em funções que não contribuem para a empresa.
A pesquisa envolveu 1 mil trabalhadores em fevereiro de 2023. Desses, 83% admitiram realizar tarefas pouco úteis, mas que dão impressão de serem importantes. Apesar disso, uma das conclusões é de que nem sempre o “trabalho performático” é negativo. Ele só se torna um problema quando passa a ser praticado com frequência.
Controle excessivo
A pesquisa aponta que os funcionários que trabalham nos modelos presencial e híbrido foram os que mais se sentiram vigiados por suas chefias, e isso os induz a se mostrarem mais ocupados.
Os líderes têm o papel de delegar tarefas para as equipes, mas existem diferentes maneiras de acompanhar os colaboradores de modo saudável, diz a professora de administração da Universidade Bentley, em Massachusetts (EUA), Susan Vroman. Ela afirma que líderes preparados não buscam microgerenciar equipes, isto é, criar uma lista gigantesca de tarefas para manter as pessoas ocupadas.
O desafio, segundo Susan, é o tempo que os líderes vão levar para aperfeiçoar esse monitoramento saudável. Até lá, parte do quadro de trabalhadores vai considerar a supervisão excessiva, enquanto outros vão estar satisfeitos pelo acompanhamento.
Para alguns chefes, um trabalhador que seja mais quieto pode parecer que não faz muita coisa ou tem pouco trabalho. Isso é um equívoco, afirma Maíra Blasi, especialista em futuro do trabalho e fundadora da Subversiva, consultoria especializada em transformação organizacional. “Valorizamos muito mais pessoas agitadas e que estão se comunicando, parecendo que estão trabalhando, em vez de olhar para as entregas em si. Parece que estar se movimentando se torna mais importante.”
Simulação
De acordo com Maíra, há funcionários que simulam estar ocupados com receio de entregar a tarefa rapidamente e receber mais trabalho que os colegas. Quem é rápido e termina suas tarefas antes acaba sendo “punido” pela eficiência, diz a especialista.
A pesquisa da Visier mostra que 8% dos funcionários se encaixaram nessa situação. Como mecanismo de defesa, o funcionário omite já ter finalizado uma tarefa por medo de ser atolado por outras demandas.
A competitividade nociva é outro fator que estimula tarefas sem resultados. O trabalhador fica com medo de não ser reconhecido, diz Jenifer Zveiter, head na Condurú Consultoria, empresa que presta serviços de diversidade e inclusão. Segundo ela, o colaborador assume o risco de fazer o que for necessário para conquistar a chefia, e alimenta um lugar de competição na equipe.
Apesar disso, é possível construir algo positivo desde que haja colaboração. “Isso gera uma motivação, uma perspectiva de crescimento e muitas vezes incentiva a criatividade e a inovação”, analisa Isabela Corrêa, CEO da B.NOUS, edtech focada em soft skills e inovação.
Saúde mental
Os principais motivos para as pessoas fingirem estar ocupadas estão ligados ao funcionamento do processo de trabalho e às formas de gerir recursos humanos, afirma Camila Corrêa, doutora e especialista em promoção da saúde mental.
Companhias com excesso de tarefas sem propósito podem se deparar com redução da motivação, aumento de faltas e licenças, além de custos com substituições/treinamentos de novos funcionários. “Uma vez que a produtividade artificial é resultado de sobrecarga, más condições de trabalho, incentivo à competitividade e expectativas irreais, há perda e adoecimento de profissionais qualificados e prejuízos substanciais para a empresa”, diz Camila.
Mas a cultura corporativa de alcançar o sucesso profissional a qualquer custo está mudando aos poucos, avalia Isabela Corrêa, da B.NOUS. “O mundo do trabalho vem se modificando em relação até mesmo à quantidade de horas trabalhadas, com modelos de trabalho flexíveis.” Isso pode mudar a ideia de que é preciso ser visto para ser importante.