A Justiça deu ganho de causa a Caetano Veloso em ação movida contra uma mulher que o chamou de “macaco pedófilo” no Twitter, em 2018. O comentário foi em resposta a um post da Revista Fórum sobre o blogueiro Flavio Morgensten, que também foi condenado a indenizar o cantor em R$ 120 mil por criar a hashtag #CaetanoPedófilo.
Maria Carla Petrellis, que informava em seu perfil na rede social ser funcionária do Instituto Butantan, terá que pagar R$ 30 mil ao artista por danos morais. No tweet que virou alvo do processo, a pesquisadora também compartilhou uma matéria da Folha de S. Paulo em que Paula Lavigne afirmou ter perdido a virgindade com o cantor aos 13 anos, enquanto ele tinha 40.
“Não se pode aceitar a alegação da ré de que não pretendia ofender o autor, pois o chamou de ‘macaco pedófilo’. Se ao lançar este rótulo nefasto a ré não pretendeu ofender, não se pode mensurar como a mesma se expressaria caso tivesse tal intenção”, reforçou na sentença o juiz Luiz Antonio Valiera do Nascimento, da 39ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Em sua decisão, o magistrado rechaça a alegação de Petrellis, de que um assessor teria sido o responsável pela publicação. O juiz também pediu ao Twitter que a mensagem seja excluída da plataforma em 10 dias.
“A ofensa irrogada é tal qual uma flecha lançada, cujo arrependimento de quem a lança não a traz de volta. Deve a ré ser responsabilizada por seus atos e deve ser condenada a reparar os danos subjetivos causados, não sendo demais destacar que a expressão lançada contém uma injúria e uma calúnia, pois além da ofensa atribui ao autor a prática de crime”, completa a decisão.
Objeto não identificado
Último dos sete livros editados por conta dos 80 anos de Caetano Veloso, festejados em 7 de agosto, Objeto não identificado apresenta onze ensaios inspirados pela obra do artista.
Organizado pelo filósofo Pedro Duarte, autor do texto introdutório Caetano Veloso, este objeto não identificado, o livro reúne ensaios de Acauam Oliveira, Fred Coelho, Guilherme Wisnik, James Martins, José Miguel Wisnik, Maria Rita Kehl, Paulo Henriques Britto, Priscila Gomes Correra, Santuza Cambria Naves (1953 – 2012) e Vadim Niktin.
Também relacionados na contracapa do livro lançado pela editora Bazar do Tempo, os nomes de Gilberto Gil, Jorge Mautner, Maria Bethânia e Moreno Veloso podem fazer o leitor supor que também há ensaios deles em Objeto não identificado. Contudo, os quatro forneceram apenas depoimentos sobre Caetano para o livro, com destaques para os de Gil e Moreno.
Dos ensaios, O Brasil no coco de Caetano – Afinal, de que seria o Brasil (e a MPB), oportunidade? é o que tem o caráter mais atual porque, no texto, Acauam Oliveira analisa o artista a partir do recente álbum Meu coco (2021), lançado no ano passado.
Os enfoques da obra de Caetano são diversos. José Miguel Wisnik evoca, em Oração ao tempo, outros aniversários de Caetano para enfatizar que as canções do compositor são também ensaios e que, a despeito do niilismo melancólico recente, há uma responsabilidade de afirmação expressa no ofertório e na parceria com os filhos do artista.
Maria Rita Kehl discorre sobre O desejo nas canções de Caetano Veloso à luz psicanálise. Fred Coelho contextualiza a contribuição do compositor dentro da “linha evolutiva” da música popular do Brasil. Já Paulo Henriques Britto e Santuza Cambria Naves (1953 – 2012) interpretam Caetano Veloso a partir da análise de uma mesma música, O quereres (1984).