Pesquisadores e arqueólogos estão empenhados para encontrar um navio escravista que naufragou em Angra dos Reis (RJ) no século 19. Segundo informações da Agência Brasil, as buscas avançaram na última semana com a aparição de possíveis destroços da embarcação.
Os materiais encontrados serão avaliados para confirmar se eles faziam parte do Brigue Camargo, nome que o navio norte-americano recebeu na época. Os destroços foram apresentados na sede do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira (7).
“Estamos na fase de processamento de dados. A resposta que posso dar agora é que temos encontrado materiais, mas ainda é difícil dizer que eles são parte do Camargo. Temos que pegar cada um deles e analisar. E também avançar nas escavações. Cada embarcação tem a sua assinatura e precisamos fazer essa identificação”, disse o presidente do Instituto AfrOrigens, Luis Felipe Freire Dantas Santos.
As buscas pelo navio começaram no ano passado. O trabalho reúne arqueólogos e pesquisadores do Instituto AfrOrigens, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Sergipe (UFS), além de contar com o apoio e investimento de instituições de ensino e pesquisa norte-americanas, como a George Washington University e o Smithsonian Institution National Museum of African American History and Culture.
História
De acordo com a Agência Brasil, o navio foi roubado nos Estados Unidos, em 1851, pelo capitão Nathaniel Gordon, que navegou até Moçambique, de onde trouxe cerca de 500 africanos escravizados para o porto clandestino do Bracuí, em Angra dos Reis, em 1852.
Dois anos antes do naufrágio, a Lei Eusébio de Queirós foi aprovada no Brasil e determinou o fim do tráfico, proibindo a circulação de navios negreiros. Sua aprovação foi influenciada pela pressão internacional, sobretudo da Inglaterra.
O navegador estava sendo perseguido pela polícia e fez com que a embarcação afundasse propositalmente para não deixar vestígios. Historiadores contam que Nathaniel chegou a utilizar roupas femininas como disfarce para fugir do país.
O norte-americano continuou foragido por 10 anos, mas foi condenado à morte por enforcamento nos EUA pelos crimes cometidos.
Ajuda
Os relatos passados por membros das comunidades quilombolas locais foram considerados fundamentais para o avanço das pesquisas.
Desde 1952, histórias sobre o naufrágio foram passadas de geração para geração no Quilombo Santa Rita do Bracuí, como contou a líder, Marilda de Souza Francisco, de 60 anos.
“A gente não sabia o nome do navio. Só sabia que tinha vindo lá da África trazendo os negros e depois afundado. E que o capitão tinha fugido vestido de mulher. Quando o meu pai contava essa história, até falava ‘que vergonha, um homem vestido de mulher’. Era essa a história. A gente até achava que era uma ficção, que alguém tinha inventado. Mas era verdade mesmo”, conta Marilda.