Quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de novembro de 2015
Pesquisadores da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desenvolvem, há cerca de dez anos, um estudo sobre os solos arenosos na região Sudoeste do Estado, na fronteira com a Argentina e o Uruguai. Com recursos do CNPq, o projeto visa ao restabelecimento do campo nativo.
Os pesquisadores Luciano Kayser e Bruno Lisboa, da Fepagro Sede, participam do estudo. Segundo Kayser, nessa região, o ecossistema é frágil, com solos arenosos e suscetíveis à erosão. O processo erosivo forma áreas de solo totalmente descobertas, sem vegetação. São os chamados núcleos de arenização ou areais, onde cresce o Lupinus albescens. “Este tremoço nativo é uma planta pioneira, das poucas que se estabelecem nos núcleos de arenização e, a partir do seu crescimento, permite o restabelecimento do campo nativo”, explica.
Porém, conforme o pesquisador, o crescimento do tremoço nativo depende de bactérias associativas, que vivem ao redor de suas raízes, e de bactérias simbióticas, que formam estruturas especiais nas raízes e usam o nitrogênio do ar para o crescimento da planta. “Por isso a ideia do projeto, cujo objetivo é entender como a arenização do solo afeta as bactérias, além de selecionar bactérias associativas e simbióticas para promoverem o crescimento do tremoço”, conta.
Para tanto, foi realizada uma série de análises microbiológicas, genéticas e de solo. Os resultados mostraram que a arenização reduz a diversidade e a atividade microbiana. “Por outro lado, esse ambiente seleciona bactérias altamente eficientes que se associam ao tremoço. As bactérias selecionadas de vida livre promoveram o crescimento da planta. Este efeito foi mais pronunciado quando as plantas cresceram na presença de fosfato de rocha”.
Kayser informa ainda que as bactérias simbióticas provenientes de núcleos de arenização foram altamente eficientes. “Plantas inoculadas com essas bactérias cresceram mais até do que as que receberam a aplicação de doses elevadas de nitrogênio. Além disso, essas bactérias são diferentes de todas as outras já identificadas. Dentre as isoladas, há pelo menos duas novas espécies de Bradyrhizobium que estão sendo sequenciadas e descritas”, diz ele.
“Assim, o trabalho indica que a utilização conjunta do tremoço nativo e de bactérias selecionadas pode ser alternativa para a recomposição da vegetação natural e de núcleos de arenização”, conclui.