Equipes da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) encarregadas de um estudo nacional sobre a velocidade de expansão do coronavírus no Brasil têm enfrentado dificuldades para cumprir a tarefa em algumas cidades do País. Segundo a própria instituição, os relatos incluem destruição de equipamentos, ameaças e agressões por cidadãos, prisão por policiais e negligência por prefeituras.
Neste domingo (17), a direção da universidade sediada na Região Sul do Estado emitiu uma nota oficial sobre os incidentes no âmbito das atividades de testagem que coordena, com o apoio do Ministério da Saúde e do instituto Ibope, com o objetivo de obter um panorama mais preciso da real dimensão pandemia. O texto atribui o problema a questões como burocracia e postura de gestores municipais e forças de segurança.
“Infelizmente, desde o início do trabalho de campo (no dia 14 de maio), as equipes vêm passando por situações constrangedoras, amplamente noticiadas na mídia”, protesta o texto, sem detalhar os lugares onde ocorreu o problema. Em entrevistas à imprensa, no entanto, o comando da UFPel citou incidentes no interior de Estados como Santa Catarina, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Ceará, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte.
“Em quase 40 cidades, os pesquisadores estão de braços cruzados, esperando autorização dos gestores municipais, em um processo burocrático que pode causar prejuízo aos cofres públicos, visto que a pesquisa é integralmente financiada com recursos públicos”, prossegue a manifestação, indicando que também há negligência por parte de prefeituras e secretarias de Saúde.
“Nas situações mais graves, os entrevistadores do Ibpe foram detidos, com uso de força policial e tratados como criminosos”, acrescenta a mensagem. “São aproximadamente 2 mil brasileiros e brasileiras que estão trabalhando para sustentar suas famílias, em uma pesquisa que pode salvar milhares de vidas, e que mereciam proteção das forças de segurança e uma salva de aplausos por parte de toda a população.”
“Ao contrário, as forças de segurança, que deveriam proteger os entrevistadores, foram responsáveis por cenas lamentáveis e ações truculentas, algumas delas registradas”, prossegue. “Por mais que a comunicação formal do Ministério da Saúde aos municípios possa ter chegado muito próximo do início da coleta de dados, nada justifica o comportamento de ‘xerifes’ assumido por alguns gestores municipais, que impedem ou atrapalham a realização dessa pesquisa.”
Elogio
Exceção nesse contexto, a capital do Amazonas foi mencionada como um exemplo de aceitação do trabalho coordenado pela UFPel: “Em vez de citar os maus exemplos, fazemos um agradecimento especial a prefeitura de Manaus, que soube compreender a relevância da pesquisa e, mesmo vivendo a maior crise de saúde da sua história, permitiu que nossos pesquisadores fizessem o seu trabalho, dando todo o suporte necessário.”
“Em meio a uma pandemia sem precedentes, o Brasil mereceria que todos os gestores dos 133 municípios incluídos na pesquisa tivessem o mesmo comportamento da prefeitura de Manaus, cidade mais afetada pela pandemia no País e que, mesmo assim, foi a primeira na qual a coleta de dados foi encerrada”, finaliza.
Garantia
Ainda de acordo com a Universidade Federal de Pelotas, o Ministério da Saúde se responsabilizou por entrar em contato, por meio de ofício, com os 133 municípios abrangidos pela pesquisa. “Além disso, o estudo está divulgado na capa da página oficial do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br)”, detalha.
A instituição assegura que todos os requisitos éticos e de segurança estão sendo seguidos na testagem, incluindo a utilização de equipamentos de proteção individual, inclusão apenas de entrevistadores com teste negativo para anticorpos do coronavírus e instruções específicas para descarte dos materiais.
(Marcello Campos)