Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 8 de julho de 2019
Uma das principais referências em preservação de aspectos da história do Rio Grande do Sul, o Museu Julio de Castilhos é a mais antiga instituição do segmento em atividade no Estado. Ocupando desde 1903 o célebre casarão da rua Duque de Caxias, próximo à Catedral Metropolitana de Porto Alegre, a sua importância tem sido cada vez mais reconhecida também por pesquisadores estrangeiros.
Um deles é o crítico cultural norte-americanao Ryan Morrison, que está na capital gaúcha em busca de dados para um doutorado na Universidade do Texas (Estados Unidos). Ele analisa o livro “Rio Grande do Sul: Terra e Homem”, publicado na década de 1950 pelo fotógrafo alemão Wolfgang Hoffman-Harnisch e que está entre as obras raras do acervo local.
Ele cursa doutorado em Língua e Cultura Latino-americana, área em que também atua como professor na Faculdade de Espanhol e Português. A sua análise se concentra sobre o imaginário racial da região do Pampa gaúcho. “O meu principal objetivo é fazer a população estar com o pensamento aberto, sempre crítica às ideias prontas, impostas”, salienta.
Morrison deve permanecer na cidade até a segunda quinzena de agosto, financiado por uma bolsa de estudos, para se dedicar ao trabalho de campo, antes de voltar para o seu país e concluir a tese, que tem apresentação prevista para 2022. “Eu me sinto um privilegiado por realizar esse trabalho e gostaria de conseguir parceria com alguma instituição local para voltar ao Rio Grande do Sul e aprimorar o trabalho antes de finalizá-lo”, revela.
A sua pesquisa analisa a presença real do povo negro na lida no pampa, comparando a narrativa escrita e consagrada com a oralidade, presente no campo e em quilombolas do território gaúcho. E como o livro “Rio Grande do Sul: Terra e Homem” mostra imagens registradas durante uma temporada em que o fotógrafo alemão permaneceu na região, a obra é fundamental para esse estudo.
Em sua abordagem, o doutorando norte-americano questiona como o negro confronta esse imaginário, inclusive a partir de lendas tradicionais (como a do Negrinho do Pastoreio) e de representações visuais em pinturas e esculturas. Após a defesa da tese acadêmica, o autor pretende transformá-la em livro.
Estímulo
Para Doris Couto, diretora do Julio de Castilhos, a vinda de estudantes de fora do Estado e do País para esse tipo de pesquisa ressalta as diversas funções da instituição, bem como a questão turística e escolar: “Além do trabalho de Ryan, com caráter internacional, temos em andamento duas pesquisas de doutorado, duas de mestrado e uma de extensão da UFRGS [Universidade Federal do Rio Grande do Sul]”.
“Também vamos retomar a publicação da revista do Museu Julio de Castilhos, reforçando o nosso papel de promotores de conhecimento, com base em nosso acervo”, garante. Interessados em consultar o acervo da instituição precisam agendar a visita, pelo mail pesquisa2@gmail.com.
A Casa conta com mais de 11 mil itens, divididos em 29 coleções, dentre elas: iconografia (pinturas, gravuras, fotos), indumentária (roupas, acessórios, modas de épocas), armaria (armas), etnologia (objetos relacionados à cultura indígena), escravista (objetos utilizados no período da escravidão), documentos, máquinas, utensílios domésticos, objetos de uso pessoal, missões, dentre outras. O acervo é tombado como patrimônio nacional, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
(Marcello Campos)