Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 31 de julho de 2024
Anfíbio foi encontrado na região dos Pampas durante expedições do PAT Campanha Sul e Serra do Sudeste
Foto: Patrick ColomboAs crescentes ameaças à biodiversidade mobilizam um grupo de pesquisadores do Rio Grande do Sul em busca de vestígios de uma espécie de anfíbio rara classificada como quase ameaçada de extinção.
O grupo percorreu mais de 1,2 mil quilômetros pela região Pampa entre dezembro de 2023 e junho de 2024, com o objetivo de confirmar a presença do sapinho-de-barriga-vermelha-do-pampa, nome popular do Melanophryniscus sanmartini. Além de encontrar esses animais nos locais com registros prévios, os pesquisadores os identificaram em novas áreas.
As expedições de campo fazem parte das ações do Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção, da Campanha Sul e Serra do Sudeste (PAT Campanha Sul e Serra do Sudeste), que integra o projeto “Pró-Espécies: Todos contra a extinção”. O objetivo é fazer o levantamento de dados e informações sobre a espécie para subsidiar a elaboração de estratégias de conservação.
“As expedições são a base para tudo. A gente pode saber o habitat exato do sapinho, onde ele canta, quando ele canta, o que ele come, como que está o ambiente dele ainda e outras informações fundamentais. Quanto mais precisas forem essas informações, melhores serão as nossas decisões na hora de planejar as estratégias de conservação. E isso não só para o sapinho, mas pra maioria das espécies de animais e plantas”, reforça Patrick Colombo, biólogo do Museu de Ciências Naturais da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, que participa das pesquisas relacionadas ao animal.
Duas saídas de campo já foram realizadas no âmbito do PAT Campanha Sul e Serra do Sudeste. As jornadas contam com um planejamento minucioso, e vão desde a separação de material para auxiliar na localização dos pequenos anfíbios até a definição das coordenadas e do período adequado para a atividade. No caso do sapinho-de-barriga-vermelha-do-pampa, a melhor época é a chuvosa, quando o animal está em período de reprodução.
“Nessa busca pelo sapinho-de-barriga-vermelha-do-pampa a gente também contou a ajuda de gravadores autônomos que foram instalados em uma das áreas com ocorrência prévia conhecida. Os anfíbios anuros emitem sons espécie- específicos de modo que se sabe qual é a espécie pela vocalização que emite”, complementa Colombo.
Depois da coleta de dados em campo, os pesquisadores organizam o material na Coleção de Anfíbios do Museu de Ciências Naturais da SEMA-RS e preparam relatórios. A partir da produção de mapas e da verificação de coordenadas onde foram localizados os animais, a equipe faz uma avaliação de novas áreas para futuros monitoramentos e demais estudos.
Características do sapinho-de-barriga-vermelha-do-pampa
O sapinho-de-barriga-vermelha-do-pampa é um pequeno anfíbio que mede até três centímetros. Sua coloração varia do castanho ao preto, com uma barriga em tons vibrantes de vermelho, laranja ou amarelo.
Ele está dentro de um grupo de espécies muito peculiar e típico do sul da América do Sul. Os pesquisadores ainda não sabem exatamente do que eles se alimentam, o que será possível graças às expedições do PAT Campanha Sul e Serra do Sudeste. Aparentemente, eles comem ácaros e formigas, de onde sequestram toxinas que usam para defesa química contra predadores e patógenos.
Uma das principais ameaças a essas espécies é a perda de habitat devido à expansão agrícola. “Esses sapinhos utilizam corpos d’água temporários, poças e pequenos riachos para se reproduzir. Esses habitats só se tornam ‘visíveis’ depois de períodos de chuvas, então quando estão secos é muito mais fácil convertê-los em lavouras, estradas e até serem aterrados, o que de fato acontece, e coloca essa e outras espécies de sapinhos-de-barriga-vermelha em risco”, diz Colombo.
Para garantir a preservação dos sapinhos, é necessária a criação e implementação de normas que estabeleçam limites para as lavouras, evitando o avanço sobre as áreas úmidas campestres e de corredores ecológicos. Colombo avalia, ainda, que é preciso acelerar os processos do CAR (Cadastro Ambiental Rural), a averbação das reservas legais e a criação de unidades de conservação levando em consideração as áreas úmidas onde o sapinho e outras espécies ocorrem.
“Iniciativas como o Pró-Espécies são um sopro de esperança que nós temos frente a todos os constantes retrocessos ambientais que estamos vivenciando. Essas ações deveriam ser incorporadas a políticas públicas sérias de proteção da nossa fauna e flora, deveriam entrar nas rotinas de órgãos ambientais, constituindo estratégias permanentes ou de longo prazo para conservação da natureza”, reforça o biólogo.
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