Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 9 de abril de 2022
Dormir pouco está associado a inúmeros prejuízos para a saúde física e mental. É durante o sono que o organismo se regenera e elimina toxinas do cérebro e de outras partes do corpo. Para realizar esse processo, são necessárias de sete a nove horas de descanso por dia.
Mas pesquisadores do sono da Universidade da Califórnia, em São Francisco, identificaram genes que possibilitam que algumas pessoas durmam de quatro a seis horas diárias sem prejudicarem a sua saúde. E mais, esses genes podem desempenhar um papel importante na prevenção de demências, como o Alzheimer.
Os resultados do estudo publicado na revista científica Cell iScience mostram que mutações genéticas transportadas pelos chamados “dorminhocos de elite” retardaram o acúmulo de proteínas tóxicas no cérebro — uma marca registrada do Alzheimer. A ligação entre sono e demência foi estabelecida há anos, com estudos sugerindo que a má qualidade ou o pouco tempo de descanso aumenta o risco para a condição.
Esses genes são encontrados em até 3% da população mundial, acreditam os cientistas. Personalidades como o ex-presidente Donald Trump, o empresário Elon Musk e o ator Dwayne ‘The Rock’ Johnson já relataram que dormem pouco (entre três e seis horas por noite) e sentem-se bem. Eles provavelmente são “beneficiados” pelos genes estudados e são considerados os “dorminhocos de elite”.
Os cientistas estudaram a genética por trás dos “dorminhocos de elite”. O trabalho foi realizado ao longo de uma década com os pesquisadores rastreando pessoas com Sono Curto Natural Familiar e genes associados ao padrão de sono. Eles observaram que as pessoas que dormiam apenas quatro a seis horas e ainda podiam “funcionar plenamente durante o dia”. Esses padrões também foram vistos em suas famílias.
A equipe de cientistas identificou cinco genes em todo o genoma que afetam os padrões de sono — e preveem que muitos mais ainda serão descobertos. Dentre eles, escolheram duas mutações genéticas chamadas de DEC2-P384R e Npsr1-Y206H para analisar na segunda parte do estudo. Os genes DEC2 e NPSR1 estão ligados a um acúmulo mais lento de placas amiloides e a uma redução na “patologia tau”, ambas ligadas à demência.
Para o experimento final, foram criados dois grupos de camundongos com predisposição para a doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência. Os animais de laboratório possuíam também um dos dois genes em estudo. Analisando os cérebros dos camundongos após três e seis meses, os cientistas descobriram que os roedores com os genes do sono curto tinham menos proteínas anormais que contribuem para o Alzheimer, em comparação com um grupo de controle.
Nesse estudo, os pesquisadores encontraram genes específicos que podem, no futuro, ajudar prevenir a demência em toda a população. Os autores do estudo esperam que suas descobertas possam levar ao desenvolvimento de novos medicamentos e evitar condições como a demência.
Embora estimem que possa levar uma década para desenvolver novos tratamentos com base em suas pesquisas, os pesquisadores destacam que um dos genes identificados pode ser alvo de remédios já existentes. Isso significa que os medicamentos podem ser reaproveitados para ajudar a evitar a demência, que é mais rápido do que desenvolver um novo medicamento do zero.
Recentemente, pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram outra característica positiva dos que dormem pouco: por questões genéticas eles apresentam sinais de impulsividade e motivação por recompensas, ferramentas que contribuem para o sucesso profissional.
Mas não dormir o suficiente, independente da quantidade de horas, tem sido associado por sua vez a uma série de outras condições, como obesidade, doenças cardíacas, pressão alta e diabetes. No entanto, especialistas debatem cada veza mais que qualidade do sono tem extrema importância. Entenda-se por qualidade não ter o sono interrompido e acordar disposto.