Integrantes da direção do PT acusam o candidato derrotado no primeiro turno, Ciro Gomes (PDT), de ter contribuído para a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) ao colocar conveniências pessoais na frente dos interesses do País. Embora o partido tenha trabalhado para ter um apoio de Ciro à candidatura de Fernando Haddad no segundo turno, o candidato do PDT disse, no domingo, que “nunca mais” fará campanha com o PT.
“Ciro perdeu uma oportunidade de se consolidar com uma liderança política nesse campo da esquerda. Foi egocêntrico e pensou no processo (eleitoral) de 2022”, afirmou Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT.
Macedo entende que o pedetista fez um cálculo político errado porque “se Bolsonaro colocar em prática o que vem defendendo o País não terá as instituições com a liberdade que tem hoje”.
“Líder não tergiversa nos momentos difíceis e ele tergiversou. Ele botou os interesses no lugar dos interesses do País.”
Tesoureiro do PT e um dos coordenadores da campanha de Fernando Haddad, Emidio de Souza também atacou Ciro.
“Ele contribuiu para esse resultado. Fez isso porque quer liderar a oposição. Porque ele quer ser candidato a presidente em 2022. Na minha opinião,colocou o interesse pessoal dele nas frentes dos interesses do País e da grave crise democrática que nos ameaça.”
No domingo, Ciro já havia reagido às críticas feitas pelo PT por não ter dado apoio explícito a Haddad. Ao votar, em Fortaleza, disse que não estava neutro, apenas não pretendia fazer campanha com o PT:
“Se depender de mim, PT nunca mais. Meu caminho é o de fazer oposição, temos que desarmar essa bomba odienta que se instalou no País, essa polarização. Fez com que o Brasil parasse”, disse o ex-presidenciável, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno.
Também no domingo, Haddad criticou Ciro Gomes e disse que é preciso “olhar para os brasileiros que tiveram postura de honradez” .
“Vamos olhar para os brasileiros que tiveram, num momento difícil da vida nacional, uma postura de honradez defendendo o Brasil e a democracia”, afirmou, ao ser perguntado se o apoio de Ciro poderia lhe ajudar a conquistar votos.
Haddad vence em Sobral, reduto do clã Ferreira Gomes
Mesmo com um Ciro Gomes (PDT) distante e sem ter declarado apoio a Fernando Haddad (PT) no segundo turno, o terceiro candidato mais votado nas eleições viu seu reduto eleitoral apoiar em massa o petista neste domingo, seguindo movimento já esperado da região Nordeste como um todo, que por sua vez é reduto eleitoral do PT. O Ceará, único Estado onde Ciro havia sido o mais votado do País no primeiro turno, deu 71% dos votos válidos para Haddad.
Em Sobral, reduto antigo da família Ferreira Gomes, Haddad recebeu 66% dos votos, puxando o resultado do interior. Na capital Fortaleza o percentual foi menor e o petista teve 55% dos votos, revelando uma presença maior do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) nos grandes centros.
Os dados indicam que o reduto eleitoral do PT, que é a região Nordeste, prevaleceu sobre o reduto dos Ferreira Gomes no Ceará sem que fosse necessária uma campanha ativa dos pedetistas em prol de Haddad. O PDT, partido de Ciro, anunciou ” apoio crítico ” à candidatura de Haddad no segundo turno, e Cid Gomes, ao participar de evento de campanha do PT, cobrou um pedido de desculpas do partido pelas “besteiras que fizeram”. Cid disse, ainda, que o partido “criou” Bolsonaro.
Fortaleza foi uma das seis capitais onde Haddad foi o mais votado no segundo turno, e todas elas ficam no Nordeste, única região do País onde Haddad superou Bolsonaro. O presidente eleito, por sua vez, venceu em João Pessoa, Maceió e Natal. Desde o resultado do primeiro turno Ciro Gomes manteve sua estratégia de se distanciar do PT. Viajou para a Europa e, na volta, gravou um vídeo anunciando que não tomaria nenhuma lado na eleição.