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Petistas reclamam em grupo de WhatsApp de derrotas: “Governo trata melhor quem vota contra”

Os parlamentares do partido se mostraram insatisfeitos com a condução do governo nas votações. (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

A derrubada do veto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à saída temporária de presos, a “saidinha” e a manutenção do veto do ex-presidente Jair Bolsonaro, que barrou a criação do crime divulgação de fake news em período eleitoral, aumentou ainda mais a crise interna no PT.

No grupo de WhatsApp de deputados do partido, os parlamentares se mostraram insatisfeitos com a condução do governo nas votações e até temem que a instabilidade política que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, possa se repetir.

“As derrotas de ontem não acendem só um alerta na Câmara. Transbordam para a rua, com um número grande de greves e paralisações no serviço público. O clima de insatisfação contamina a sociedade. Vivemos isso em 2014. É a história se repetindo? Com a extrema direita organizada? É preciso enfrentar enquanto é possível. A questão não é econômica. É política”, escreveu um parlamentar na manhã desta quarta-feira, 29, um dia depois da sessão do Congresso Nacional que sacramentou as derrotas para o Palácio do Planalto.

A manutenção do veto de Lula à saidinha era tida como uma “pauta cara” para Lula e uma “questão de honra” para o PT. O governo tentou mobilizar ministros — especialmente Ricardo Lewandowski (Justiça) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) — e líderes no Congresso para impedir a derrubada, mas o esforço acabou ineficaz.

Entre os deputados, há ainda o temor de que o resultado reverbere nas eleições municipais deste ano. “(Estou) vendo uma base falsa sem nenhuma centralização dos líderes e ministros. Vamos perder feio nas eleições municipais se não mudarem a estratégia”, escreveu um parlamentar.

O maior pedido por esses deputados é que Lula possa ouvir as queixas que eles têm para trazer. “Lula tem que ouvir a bancada ou pediremos uma audiência na tribuna (…) se ficarmos quietinhos não seremos ouvidos até porque tem um bando de puxa-saco que dificulta a nossa aproximação. Falo enquanto bancada”, escreveu um deputado.

Essa última mensagem termina com uma sugestão. “Governo precisa seguir o que diz a Bíblia: ‘toda árvore que não dá bons frutos, corta-se e lança no fogo.”

Os congressistas reclamam que o Palácio do Planalto dá mais atenção a atender demandas do Centrão, ainda que esse grupo imponha sucessivas derrotas ao governo, mesmo já tendo controle de 11 dos 38 ministérios do governo. “Será se o massacre ontem vai fazer o governo começar a montar um time de apoio? Ou seguirá com a regra de tratar mal quem vota a favor e tratar bem quem vota contra?”, questionou um outro deputado.

Outros petistas repetiram o descontentamento. “Nunca vi um governo tratar melhor quem vota contra o governo”, dizia uma das mensagens. “Nem na época da Dilma aconteceu isto.”

Diante da sensação de frustração, houve um apelo pela ação: a conversa com Lula e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “Sugiro algumas atitudes: reforçarmos o pedido de agenda da bancada com Lula e uma reunião nossa com Guimarães para criar um fato e ele levar oficialmente nossa posição de insatisfação ao Lula, única maneira de obtermos uma posição dentro do governo”, escreveu.

Pouco tempo depois do fim da sessão do Congresso, expoentes do PT decidiram centralizar no líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), a culpa pela derrota e pela desarticulação. Randolfe, porém, não pretende assumir todo o ônus.

As queixas, aliás, já existem desde o começo do governo, no ano passado. Como revelou o Estadão em áudios, deputados da base agrária do PT disseram, em setembro daquele ano, que o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, “ganhou muito poder”, que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, não os atende e que o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, “tem que ter mais humildade”. Todos esses três chefes são petistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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