Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de julho de 2022
O sindicato que representa os comandantes, copilotos e comissários de voo
brasileiros convocou uma manifestação após a Gol implementar uma política de compensação de salários com valores diferentes dos apresentados pelos
trabalhadores. O protesto está marcado para esta segunda-feira (1º), às 13h, na sede do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas).
A decisão que motivou os protestos foi anunciada na terça-feira (26) pelo presidente-executivo da Gol, Celso Ferrer. Em vídeo, ele afirma que a empresa vai pagar, pelos próximos quatro meses, valores para recompor os salários, além de criar um fórum de “otimização de custos” que contará com 12 tripulantes convidados.
Segundo o sindicato, o valor mensal dessa recomposição vai de aproximadamente R$ 450, para comissários, até R$ 2.300, para comandantes.
A proposta do sindicato era um reajuste salarial de 8,5% e uma verba indenizatória mensal semelhante à apresentada pela empresa, porém por 12 meses, não quatro.
“Para muitos tripulantes parece um grande cala a boca”, afirma o presidente do sindicato, Henrique Hacklaender. “A Gol implementou um gerenciamento de crise sem nenhuma aprovação da categoria e sem mensurar se isso estaria a contento.”
Por meio de seu site, o SNA afirmou que a compensação implementada pela Gol “não atende à pauta de reivindicação” da categoria. A entidade também não concorda com a criação de um fórum com tripulantes para discutir cortes de despesas.
Em nota, a GOL afirma que apresentou nesta semana, aos seus colaboradores e ao SNA, “ações relativas à remuneração dos tripulantes, assim como anunciou um fórum com representantes da tripulação que terá o objetivo de capturar oportunidades que gerem retorno financeiro, e que serão revertidas ao próprio time”.
Ainda segundo o comunicado, a remuneração total de um tripulante é composta por um valor fixo e uma parte variável atrelada às horas de voo. “A GOL entende que a parte variável está afetada durante a retomada de voos e, por isso, enquanto a operação não atinge os patamares prévios à pandemia, concederá um valor complementar a seus tripulantes. A companhia trabalha para que em dezembro a operação esteja normalizada em níveis similares aos de 2019.”
Por fim, destaca que é de conhecimento público que a indústria da aviação mundial vem enfrentando diversos desafios desde o início do ano. “O principal deles está relacionado à elevada alta dos preços de combustível (QAV) influenciada pela alta instabilidade nas variáveis macroeconômicas, derivadas pela desvalorização da taxa de câmbio Real, apreciação nos preços do barril do petróleo no mercado externo e efeitos de inflação que impactaram os custos de fretes e transportes. Diante deste cenário desafiador, a companhia seguirá de portas abertas para ouvir seus colaboradores e suas demandas.”
Descontentamento
A convocação do protesto é mais um capítulo do descontentamento dos
funcionários da companhia aérea desde o início da pandemia.
O setor foi um dos mais afetados pela paralisação da economia. Segundo
levantamento da CNI (Confederação Nacional de Indústrias), em maio de 2020 o país registrou 588 mil passageiros pagantes, número 93% menor em relação ao mesmo mês do ano anterior. Segundo dados da Iata (associação internacional das empresas aéreas), as companhias perderam, em média, US$ 230 milhões por dia nos primeiros seis meses da crise.
Nesse contexto, as aéreas negociaram com os sindicatos redução de salários em troca de manutenção dos empregos – acordo que foi mantido até dezembro do ano passado pela Gol.
Mesmo com a volta do salário integral, Hacklaender afirma que, em relação a 2019, a remuneração dos tripulantes da Gol caiu pelo menos 20%. Isso porque metade desse valor é variável e depende da quantidade de voos, que a empresa ainda não retomou no ritmo anterior à crise do coronavírus.
O setor aéreo segue sendo um dos mais combalidos pela crise sanitária, embora dê sinais de recuperação. Em julho deste ano, foram 7,3 milhões de passageiros pagantes transportados, 160% mais do que no mesmo período de 2021.
Na última quinta-feira (28), a Gol divulgou que teve um prejuízo líquido de R$ 2,85 bilhões no segundo trimestre, contra um lucro de R$ 658 milhões no mesmo período do ano anterior. Já a receita operacional líquida no período saltou 215,3%, para R$ 3,24 bilhões.