Segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Por Tito Guarniere | 25 de janeiro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No embate político, erros quase inocentes às vezes desembocam em crises de difícil solução, com o desgaste e perda para quem tem o azar (ou a incompetência) de cometê-los.
Que prejuízo teve para o Brasil com a patacoada do Pix, quando uma medida comum de governo quase inócua, se transmuda, entretanto, em pretexto de um avassalador ataque ao governo, deixando-o de joelhos por causa de um ato banal, obrigando-o a recuar, e que obtém a adesão irada de milhões de desavisados? Prejuízo real nenhum.
Talvez nunca na história deste país um ato tão trivial tenha gerado sentimentos tão hostis, gritaria tão estridente.
Lamento dizer: é assim que funciona. Ouça-se um defensor do governo sobre a matéria e ele se mostrará indignado com a “mentira”. Deus me livre de ter alguma consideração com um parlamentar pretensioso como Nikolas Ferreira – todos os dias eles nos brinda com sólidas razões para detestá-lo. Mas o desprezo por babacas não deve obscurecer o princípio: é verdade? Até onde é verdade?
Que estava em curso uma medida para incluir as transações do Pix entre os seus mecanismos de controle, é verdade, sim. Tanto que, covardemente, recuou e retirou a ideia. Mas daí a dizer que a finalidade era tributar as operações do Pix vai uma longa distância.
Um: a medida era meramente administrativa. Dois: a tributação do Pix, para existir, teria de ser pelo Congresso. Em dois pontos quase singelos estava destruída a teoria. Uma teoria conspiratória exagerada até para uma teoria conspiratória..
Mas mesmo medida administrativa não prejudicaria os usuários? Não. Menos para aqueles que, flagrados nos controles com um volume de transações de valor suspeito – casos de sonegação, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros. Tais mecanismos já existem há muito tempo em contas bancárias, cartões de crédito e outras formas de movimentação de dinheiro, sem maior grita.
Pode ser considerada ação do deputado bolsonarista Nikolas uma fake-news?
Da grossa. Clássica. Toma-se o recorte de um trecho, de um contexto verdadeiro (e menor) e conclui-se: o ato aparentemente inocente não é senão um ato de preparação para cometer um grande ato de maldade.
Depois espalha-se no universo infinito das redes sociais. Como o desprovimento, a desinformação, a estultice, senão o ódio e a intolerância, são terreno fértil para tais patacoadas, está feito o estrago.
Não chegou nem perto da taxação. Mas o governo também têm seus erros e fragilidades. O governo pode negar que queira taxar o Pix – mas não pode negar a fama, má e merecida, de que é um governo gastador, para não dizer perdulário, E então? Porque a medida não seria um sinal no sentido da taxação?
O governo despreza os usuários do PIX, não vê nele algo de muito útil ou valioso, porque não foi ele que criou, e porque não compreende (e não parece ter intenções compreender) as razões e as demandas dos trabalhadores informais e prestadores de serviços, os grandes usuários do sistema.
Fake news, sim. Mas repito: na política é assim que funciona. Todos fazem igual. A oposição executou uma manobra simples, mas que deu um impulso incalculável nos seus propósitos.
(titoguarniere@terra.com.br)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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