A movimentação de dinheiro no Brasil se transformou com a chegada do Pix – meio de pagamento eletrônico instantâneo e gratuito. Dados do BC (Banco Central) revelam que o sistema já superou a marca de 2 bilhões de transações e R$ 1 trilhão de reais por mês. O método de transferência idealizado em 2018 – e implementado dois anos depois – tem mensalmente batido recordes e se tornado uma referência mundial. Segundo o presidente do BC, Campos Neto, o interesse de outros países se dá pelo baixo custo: “O Pix é muito barato; custou R$ 5 milhões para o Banco Central”.
O sistema foi lançado oficialmente em novembro de 2020. Ele é operado por mais de 770 instituições financeiras, de acordo com o BC. Por conta da facilidade de mandar e receber dinheiro, e também pelo fato de não ter taxas, a adesão dos brasileiros ao novo sistema foi expressiva. A quantidade de chaves do Pix cadastradas, mais de 523 milhões, é quase o dobro da do número de habitantes no País, de 215 milhões, segundo a estimativa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O sistema também conta as modalidades Pix Saque e Pix Troco, lançadas no fim de 2021. Elas permitem que o usuário faça saques em lojas, não apenas em caixas eletrônicos. A oferta das duas modalidades é opcional e depende dos estabelecimentos.
O Banco Central, por meio de nota, relevou que o meio de pagamento “ainda não atingiu seu pleno potencial”, tendo espaço para crescimento com diversos produtos e novidades previstos em sua agenda evolutiva.
“Além de aperfeiçoamentos contínuos nos mecanismos de segurança, está priorizado (mas ainda sem data de lançamento definida) o desenvolvimento do serviço que viabilizará os pagamentos recorrentes de forma automática, mediante prévia autorização do usuário, produto similar ao débito em conta, mas que independe do estabelecimento de convênios entre usuários recebedores e instituições financeiras específicas”, ressalta o Banco Central.
De acordo com a autoridade monetária, “a adoção massiva” da população está em linha com as expectativas do BC, porque ele “foi concebido para ser versátil, acessível e democrático”.
“O Pix foi amplamente adotado pela população, empresas e instituições governamentais em um curtíssimo espaço de tempo e tem feito frente aos objetivos públicos ao qual foi desenhado, promovendo redução de custos, aumento de eficiência e de competitividade no setor de pagamentos, alavancando a digitalização e impulsionando a inclusão financeira e novos modelos de negócio”, diz o BC.
Segundo o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, Renato Gomes, um dos fatores que contribuíram para a rápida aceitação do Pix entre a população foi o fato de, pelo design do serviço, nenhum usuário ter que baixar aplicativos ou se registrar em sites para usá-lo. “O consumidor utiliza o Pix por meio do aplicativo do seu próprio banco, que já é conhecido e no qual ele confia. Ou seja, o Pix já nasceu integrado ao cotidiano das pessoas e das empresas”, explica.
Dados do BC mostram que 29,9% das pessoas registradas no Cadastro Único (CadÚnico) não faziam movimentação eletrônica antes do Pix e passaram a fazê-lo com a implementação do meio de pagamento, sendo que 22,6% usaram só o Pix. Para o mestre em economia Diego Vasconcelos, o principal ponto é a inclusão financeira. Ele acredita que o sistema traz para a economia um impacto muito forte na inclusão de formas eletrônicas, considerando a quantidade de pessoas que, antes, não tinham acesso a essas formas eletrônicas e que faziam pagamentos de formas tradicionais.
“A gente percebe a diminuição dos custos de transações, principalmente para a população de baixa renda. A quantidade de transações que são feitas em dinheiro, geralmente são feitas pela população de baixa renda, que não tem muito conhecimento tecnológico e digital. O Pix conseguiu alcançar essa população pelos custos. O valor das transações facilitaram muito, porque, para fazer uma transação nos bancos físicos, e até digitais, existe uma taxa, mesmo que seja miníma. O Pix reduz esse custo, porque não existe cobrança de taxa. Para transferências de valores pequenos, o sistema de pagamento avançou nesse quesito”, disse.
“Além disso, antes, as pessoas enfrentavam filas, tinham sempre que estar fisicamente no banco, tentando pagar com o próprio dinheiro ou com o cheque, se arriscando. Existe um efeito de insegurança nisso. Hoje elas têm essa facilidade, de fazer os seus pagamentos de forma digital e dentro de casa”, concluiu o especialista.
Em março deste ano, o Banco de Compensações Internacionais (BIS), também conhecido como “banco central dos bancos centrais”, elogiou o sistema brasileiro em um relatório sobre meios de pagamentos digitais. De acordo com o BIS, o Pix é um exemplo de como as autoridades monetárias do mundo podem apoiar a interoperabilidade e a concorrência entre sistemas de pagamento internacionais, além de servirem de facilitadores para que os países façam a transição de seus sistemas monetários rumo à adoção de moedas digitais.
Fato é que países como Colômbia e Canadá já demonstraram interesse em adotar o sistema de pagamento a partir da tecnologia do BC. Segundo a autarquia, “o Banco Central vem acompanhando as iniciativas para interligações de sistemas de pagamentos de diferentes países, o que, no futuro, viabilizará pagamentos transfronteiriços de forma mais ágil e prática”, salienta o Banco Central.
De acordo com dados das “Estatísticas de Pagamentos de Varejo e de Cartões no Brasil” divulgados pelo Banco Central, o Pix ultrapassou o cartão de crédito e de débito no quarto trimestre de 2021 e, depois disso, não parou de crescer, chegando a 5,469 bilhões no fim do segundo trimestre. As informações são do jornal O Dia.