Líderes empresariais dos EUA temem que a promessa de Donald Trump de deportar milhões de trabalhadores ilegais no país pode levar à escassez de mão de obra, fechando restaurantes, paralisando fazendas e pequenas empresas, e aumentando os preços.
Produtores de alimentos e de manufaturas e donos de hotéis estão contratando advogados para auditar a situação de seus trabalhadores, afirmou Amy Peck, advogada de imigração que representa empregadores na Jackson Lewis. Os empresários também estão treinando funcionários sobre como lidar com visitas surpresa de autoridades de imigração antes de Trump assumir a presidência em janeiro.
“As pessoas estão preocupadas com o preço dos alimentos agora? Espere até [os produtores de alimentos] não conseguirem trabalhadores”, comentou Peck.
O Centro de Estudos de Migração estima que os EUA tinham cerca de 11,7 milhões de pessoas com situação ilegal no ano passado. Trabalhadores nascidos em outros países representavam 18,6% da força de trabalho dos EUA em 2023, segundo o departamento de trabalho, mas o órgão não tinha uma definição sobre a situação deles.
Tom Homan, escolhido para ser o diretor do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas) do presidente eleito, afirmou que planeja começar as deportações com os “piores” em primeiro lugar —migrantes que estão no país ilegalmente e foram condenados por crimes.
Aliado de Trump, Dan Crenshaw disse em um evento da Axios na quarta-feira (13) que, embora ele não acredite que as autoridades de imigração irão de porta em porta para realizar deportações, “de vez em quando” pode haver uma “batida em uma determinada empresa” que contrata trabalhadores que estão ilegais nos EUA.
Declarações anteriores de Homan sobre certos programas de visto fazem com que grupos empresariais temam que Trump possa tentar desacelerar a imigração legal, dizendo que eles não conseguirão substituir suas forças de trabalho existentes por cidadãos dos EUA.
Um representante da equipe de transição de Trump não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O setor agrícola estava totalmente dependente do programa H-2A (que permite que empresas contratem trabalhadores estrangeiros de forma temporária) para recrutar trabalhadores sazonais para a colheita, disse Jim Bair, diretor executivo da US Apple Association, um grupo comercial para produtores de frutas.
“Raramente algum cidadão dos EUA aparece para trabalhar e, se aparece, desiste após o primeiro dia porque o trabalho é muito difícil”, destacou Bair.
Proprietários de empresas há muito tempo fazem lobby por outras alternativas para a imigração legal. Entre as opções estão simplificar o programa de visto H-2A e expandir o número de migrantes que podem se qualificar para autorização de trabalho através do Status de Proteção Temporária, que permite a entrada nos EUA de pessoas que estão em países que enfrentam conflitos civis ou desastres naturais.
Uma coalizão de grupos agrícolas apoiou uma legislação que permitiria que migrantes sem documentação obtivessem autorização de trabalho após pagar uma multa e concordar em trabalhar em fazendas por um período determinado, mas ela está parada no Senado, apesar do apoio bipartidário na Câmara dos Representantes.
“Precisamos ter uma opção para a cidadania para [imigrantes] e criar um caminho para trabalhadores sem documentação —trabalhadores que, a propósito, têm trabalhado, pago impostos e contribuído para nossa economia por décadas, para continuar contribuindo sem medo de assédio ou deportação”, disse Adam Lampert, diretor executivo da Cambridge Caregivers, que emprega 300 cuidadores. Lampert, que também é membro da ABIC (American Business Immigration Coalition), estima que 80% deles são nascidos no exterior. Em sua avaliação, os custos de saúde vão disparar sem esses cuidadores.
Produtores de alimentos e executivos de serviços ligados a eventos dizem que os setores seriam os mais afetados por essa repressão à imigração, mas alertam que a construção civil e serviços de entrega de alimentos também teriam dificuldades para substituir a mão de obra, majoritariamente nascida no exterior.
Sam Sanchez, proprietário do grupo de restaurantes Third Coast Hospitality, com sede em Chicago, e membro do conselho da NRA (National Restaurant Association), afirmou a repórteres em um evento da ABIC que temia que metade dos restaurantes dos EUA fosse forçada a fechar sem trabalhadores que estão ilegais no país.
Pesquisas da NRA indicam que 54% dos trabalhadores de restaurantes nos EUA não têm documentação legal para permanecer no país.
“Se você vai deportá-los, esses restaurantes fechariam e veríamos uma perda massiva de receita, renda, e entraríamos em declínio”, analisou Sanchez. “Acreditamos que o presidente Trump, como empresário, reconhecerá isso. Temos bons cidadãos e que respeitam a lei. Queremos garantir que eles continuem trabalhando.”
Executivos da área da saúde também dizem que restringir a imigração agravaria a escassez de enfermeiros e cuidadores, já que a reposição vem sendo lenta desde a crise da Covid-19.
Danny Prosky, diretor executivo da American Healthcare Reit, que investe em lares de idosos e edifícios de escritórios médicos, disse a investidores na quarta-feira que a escassez de mão de obra era a maior preocupação para as empresas.
Alguns líderes empresariais permanecem esperançosos de que seus alertas moderarão os planos de Trump. “Acho que está claro que haverá um derramamento de sangue em janeiro. Acredito que cabeças racionais prevalecerão na administração, porque há economistas lá também”, afirmou Lampert.
Jenni Tilton-Flood, fazendeira que comercializa leite em Maine, não é tão otimista. Dois terços dos trabalhadores de sua fazenda são nascidos no exterior e ela teme que a proximidade deles com a fronteira EUA-Canadá os torne alvos fáceis para as autoridades de imigração.
As deportações a deixariam incapaz de cuidar de seus animais e desestabilizariam toda a indústria de laticínios, disse ela. “Há muita preocupação e há muito pânico”, completou.