Em pouco menos de dois anos de investigações, a Polícia Federal (PF) reuniu uma série de indícios que conectam o ex-presidente Jair Bolsonaro às articulações com teor golpista que miravam impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A lista de provas inclui relatos dos chefes das Forças Armadas sobre a apresentação de uma minuta golpista, por parte do próprio Bolsonaro, que também deixou “pegadas” em documentos encontrados com ex-assessores.
Veja os principais pontos que ligam Bolsonaro à trama golpista.
* Apresentação de minuta golpista a chefes das Forças Armadas
Ao longo da investigação, a PF apontou que, sob o mando de Bolsonaro, oficiais das Forças Armadas, ministros do seu governo e assessores participaram de reuniões na qual discutiram a possibilidade de dar um golpe de Estado, que, segundo a PF, não se concretizou porque não teve o aval dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica.
O general Marco Antônio Freire Gomes e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, chefes das respectivas Forças, prestaram depoimento à PF no qual relataram que Bolsonaro apresentou um documento que previa as hipóteses de instaurar Estado de defesa ou de sítio, além de dar início a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
* “Pegadas” do então presidente em minutas golpistas
A investigação da PF também encontrou espécies de “pegadas” e de alusões a Bolsonaro em minutas de teor golpista.
Na casa do ex-ministro Anderson Torres, titular da pasta da Justiça no governo Bolsonaro, a PF encontrou a minuta de um decreto que previa uma espécie de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após as eleições.
O documento era datado de 2022, com dia e mês em branco, e o nome de Bolsonaro.
Já outra minuta de decreto golpista, também descoberta pela PF, previa a prisão dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A minuta também previa a realização de novas eleições.
A PF obteve conversas de aliados do ex-presidente discutindo a minuta entre novembro e dezembro de 2022, pouco antes de Bolsonaro deixar o poder.
* Monitoramento de Moraes por ex-assessores de Bolsonaro
Em um flanco com desdobramentos mais recentes na investigação, a PF reuniu indícios de que assessores próximos a Bolsonaro participaram de um monitoramento dos passos do ministro do STF Alexandre de Moraes. A vigilância, de acordo com a PF, teria o objetivo de sequestrar e matar Moraes.
O plano, de acordo com a investigação, havia sido concebido pelo general Mário Fernandes, que chegou a ser ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro.
Além disso, diálogos entre o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens da Presidência, e o coronel Marcelo Câmara, outro ex-assessor de Bolsonaro, coletados pela PF no celular do primeiro, também sugerem monitoramento dos passos de Moraes.
* Uso do Palácio do Planalto para imprimir plano para matar Lula, Alckmin e Moraes
A PF também incluiu em seu relatório final do inquérito do golpe que há indícios que Bolsonaro sabia do plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, em 2022.
Relatório que trata sobre o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes afirma que o documento com o planejamento, batizado de “Punhal verde amarelo”, foi impresso no Palácio do Planalto pelo então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, general Mario Fernandes. A investigação aponta que, em 16 de dezembro de 2022, o militar fez seis cópias do arquivo que, para os investigadores, indica que seriam distribuídas em uma reunião.
Além disso, a casa do general Walter Braga Netto, que havia sido candidato a vice na chapa de Bolsonaro, foi usada para reunião no dia 12 de novembro de 2022. No encontro em questão, segundo a PF, foi discutido o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.
* Reunião pré-eleições com teor golpista no Palácio do Planalto
Outro elemento citado na investigação é uma reunião com teor golpista em julho de 2022 no Palácio do Planalto com integrantes do primeiro escalão do governo. Na ocasião, Bolsonaro incitou uma ação antes das eleições, e foi seguido por alguns minutos na fala pró-golpe.
Na mesma reunião, um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro, general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, defendeu que a “mesa” tinha que ser virada logo, antes do resultado das eleições.
* Questionamento do PL a supostas fraudes na votação de 2022
A investigação aponta que o PL, partido de Bolsonaro, foi usado “para financiar a estrutura de apoio as narrativas que alegavam supostas fraudes às urnas eletrônicas, de modo a legitimar as manifestações que ocorriam em frentes as instalações militares”.
Segundo a PF, o ápice da estratégia ocorreu no dia 22 de novembro de 2022, quando a coligação formada pelo PL, Republicanos e Progressistas entrou com uma ação que, na prática, anularia votos de urnas utilizadas nas eleições daquele ano.