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Saúde Planos de saúde têm maior prejuízo operacional já registrado, de R$ 11,5 bilhões

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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Plano de saúde

O ano de 2022 foi o pior da história do setor de planos de saúde, desde o início da série histórica elaborada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a partir de 2001. O prejuízo operacional acumulado em 12 meses foi de R$ 11,5 bilhões, o maior em mais de duas décadas. No entanto, abaixo dos R$ 15 bilhões estimados pelo mercado.

Mas, considerando o resultado financeiro, as contas fecharam no que a ANS chamou de zero a zero, já que o lucro líquido foi de R$ 2,5 milhões, que representa 0,001% das receitas de operações de saúde do setor no ano passado, de R$ 237,6 bilhões.

O número no campo positivo, ainda que pouco relevante para o tamanho do mercado, é reflexo do expressivo resultado financeiro obtido pelas operadoras com o aumento das taxas de juros que remuneram os ativos garantidores e aplicações financeiras. Com isso, o resultado financeiro ficou em R$ 9,4 bilhões no ano.

Mas o fato de 43% das operadoras médico-hospitalares terem fechado o ano com prejuízo aumenta a percepção de deterioração do resultado do setor, que teve um lucro recorde de R$ 18,7 bilhões em 2020 — devido à redução de procedimentos durante a pandemia — e de R$ 3,8 bilhões em 2021.

Na avaliação de Paulo Roberto Rebello, presidente da ANS, o mercado vive um momento peculiar. Apesar de um crescimento constante na base de clientes desde o início da pandemia — o número de beneficiários em planos médico-hospitalares foi de 47 milhões em dezembro de 2019 para 50,4 milhões em dezembro de 2022 — os resultados vêm piorando.

Sinistralidade

“Em princípio, as despesas assistenciais não apresentaram crescimento que possa justificar sozinha o aumento da sinistralidade, o percentual das receitas com mensalidades consumidas pelas despesas assistenciais. Entretanto, as receitas advindas das mensalidades parecem estar estagnadas, especialmente nas grandes operadoras”, analisa Rebello, que vê sinais de melhoras no quarto trimestre.

Vera Valente, diretora-executiva da FenaSaúde, associação que reúne as maiores empresas do setor, não concorda com a avaliação da ANS de que o resultado de 2022 representa um zero a zero. E afirma ter uma visão mais pessimista para este e o próximo ano.

“Não se opera num setor de altíssimo risco para ganhar dinheiro em aplicação financeira. Há uma parte das empresas, inclusive, que defende a liberação das aplicações financeiras (os ativos garantidores) para dar um alívio no setor. Cerca de 40% dos beneficiários estão em operadores que registraram prejuízo operacional. Na minha avaliação, esse quadro não se reverte no curto prazo. É um grave momento do setor”, afirma Vera.

‘Downgrade’ de plano de saúde

O fato de a receita não acompanhar a evolução no número de beneficiários pode ser em parte explicada pelo downgrade dos planos de saúde. Ou seja, a base cresceu, mas o valor médio dos planos caiu. Para não deixar o benefício, famílias e empresas trocaram seus contratos por outros mais baratos.

Há quem diga ainda que houve uma subprecificação por parte das operadoras na intenção de aumentar sua base de clientes.

Com o aperto econômico dos últimos anos, as operadoras dizem ainda que não foi possível repassar os aumentos de custos para as empresas, principais contratantes de planos de saúde do país, com cerca de 80% do mercado. E lembram que a média dos reajustes coletivos no ano passado foi menor do que a dos planos individuais: 11% contra 15%.

“Embora os últimos dados mostrem que os resultados menos favoráveis são observados nas maiores operadoras, ainda é cedo para avaliar. A busca por ganhos de escala no setor é natural devido à própria natureza do negócio das operadoras” analisa o presidente da ANS.

“É necessário tempo para que as unidades adquiridas estejam com as engrenagens ajustadas. Esse período de busca de sinergias empresariais pode resultar em investimentos adicionais e seus resultados efetivos podem não ser visíveis em um espaço tão curto de tempo, especialmente após uma pandemia como a que passamos.”

“Reajustes que penalizam consumidor”

O percentual das receitas com mensalidades gasto com a assistência (a chamada sinistralidade), aumentou 2,1 pontos percentuais de 2021 para 2022 e chegou a 89,21%. Na avaliação do economista Lucas Andrietta, pesquisador do Grupo de Estudos sobre Planos de Saúde e Interações Público-Privadas da USP, os dados estão longe de mostrar uma crise estrutural do setor.

“O aumento da sinistralidade pode estar relacionado ao represamento ocorrido durante a pandemia. Era um efeito previsível e sua contrapartida foi um resultado econômico extravagante em 2020. A dita preocupação com a sustentabilidade financeira e a saúde da clientela indicaria a óbvia necessidade de se fazer provisões para as oscilações dos anos seguintes. O que sabemos hoje é que, ao longo dos anos, o setor tem sido capaz de manter receitas crescentes via reajustes de preço que penalizam consumidores, sobretudo idosos que não podem pagar”, pontua o economista.

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