Sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de dezembro de 2024
A cada evento que comparece nas três últimas semanas, o general Tomás Miguel Ribeiro de Paiva, comandante do Exército, é questionado sobre os desdobramentos das investigações da Polícia Federal (PF) que já mandaram oficiais generais para a cadeia, revelaram planos e ações para se tentar dar um golpe de Estado e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
A todos que o abordam, o general explica que não há nada o que falar no momento, pois ninguém, além dos delegados da PF, do ministro Alexandre de Moraes e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sabem a extensão do que foi apurado. As suspeitas que foram descartadas e o que permaneceu de pé após tantas buscas, perícias e depoimentos. Não se sabe ainda tudo o que a PF reuniu sobre os generais Walter Braga Netto e Estevam Theophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter) e um dos 40 indiciados no inquérito do golpe, recém-concluído.
Exemplo disso foi que a PF questionou Theophilo sobre uma proposta que ele apresentou ao Alto Comando do Exército na qual defendia a criação de um Comando Multidomínio, que concentraria no Coter as tropas do Comando de Operações Especiais, e o Comando de Defesa Cibernética. Ao mesmo tempo, a 3.ª Brigada de Infantaria seria passada ao Comando Militar do Oeste, acabando com o Comando Militar do Planalto, que é subordinado ao comandante do Exército. A proposta foi rejeitada pelos demais generais.
Aos federais, Theophilo disse: “A sugestão realizada em agosto de 2023 pelo declarante ao Estado-Maior do Exército, de Comando Multidomínio, é uma tendência mundial, que tem relação com o emprego das Forças Armadas para defesa da pátria (guerra externa)”. O general afirmou que ela não tinha relação com “o objeto da investigação”. Até agora não se sabe a conclusão da PF a esse respeito. A pergunta do delegado Fábio Shor consta do depoimento de Theophilo de 23 de fevereiro.
Na manhã da última terça-feira (17), a cena só não se repetiu mais uma vez, quando Tomás foi à posse do novo comandante militar do Sudeste, general Pedro Celso Coelho Montenegro, porque Tomás saiu sem dar entrevistas. A cautela do general tem ainda um outro objetivo: evitar que qualquer lado da polarização política se aproprie de uma declaração para atacar a instituição.
Uma tempestade parece se erguer a cada semana diante da Força terrestre: dos cortes na Previdência militar à revisão do alcance da Lei de Anistia, defendida pelo ministro Flávio Dino, aos decretos de prisão assinados por Moraes. Todos querem saber o que pensa e como reagirá o general. A República ainda não se acostumou à cautela. (Marcelo Godoy/Estadão Conteúdo)