Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de novembro de 2024
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, afirmou que há “grupos extremistas ativos” e que precisam de reação “enérgica” das autoridades. Ele afirmou que uma hipótese em investigação para o ataque do homem-bomba na Praça dos Três Poderes, na noite de quarta-feira (13), é de terrorismo e que há “indícios” de planejamento de longo prazo. Rodrigues também citou novas ameaças recebidas pela Corte.
“Esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica. Entendemos que o episódio de ontem não é um fato isolado e que está conectado com fatos recentes que a Polícia Federal tem investigado. Estamos tratando esse caso sob duas vertentes: atos terroristas e atentado ao Estado Democrático de Direito”, afirmou Rodrigues.
Para o diretor-geral, os elementos colhidos até o momento na investigação indicam que a ação foi pensada ao longo de meses.
“Há indícios de planejamento de longo prazo. Ele já esteve em Brasília outras vezes, inclusive no começo de 2023. Não foi uma coisa pensada de um dia para o outro. No vídeo, a pessoa fala das idas e vindas a Brasília. Havia toda uma preparação e esses elementos que nos apontam para a radicalização dessas pessoas. Eles vão às redes sociais, que hoje são terra de ninguém. De fato, foi uma ação premeditada.”
A estadia de Francisco Wanderley Luiz em Brasília no ano passado, segundo Rodrigues, inclui o período dos atos do 8 de janeiro.
“É cedo dizer se houve participação direta ou não nos atos do 8 de janeiro. Essa pessoa estava aqui no início de 2023. Há uma mensagem escrita no espelho da residência fazendo menção a um ato de pichação que foi feito na estátua da Justiça (durante os atos)”, afirmou o diretor da PF.
Ele acrescentou que a PF está investigando se Francisco Wanderley contou com auxílio financeiro de terceiros. A proprietária da casa que ele alugou em Ceilândia, a cerca de 30 quilômetros da Praça dos Três Poderes, já foi ouvida pela PF. Agentes fazem uma perícia também para analisar se uma caixa encontrada perto do trailer que o homem-bomba usava nas proximidades da Câmara também contém explosivos.
“A investigação dirá se essa pessoa agiu isoladamente, se houve apoio financeiro ou logístico”, disse Rodrigues, completando. “É um momento de extrema gravidade. Recebi hoje a informação sobre o envio de novas mensagens de ameaças à Suprema Corte. Nossa lei antiterrorismo é boa, mas pode passar por processos de melhoria para dar mais instrumentos e ferramentas às agências de segurança.”
Anistia
Seguindo a mesma linha do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Rodrigues defendeu o encerramento das discussões sobre uma possível anistia aos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro. Um projeto de lei na Câmara defende o fim das punições. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), determinou uma tramitação mais lenta no mês passado ao instaurar uma comissão especial.
“Vejam a gravidade e a extensão desse processo. Não é razoável as pessoas cometerem atos terroristas, atentarem contra o poder do Estado. Ele deixou um artefatos pra matar os policiais que ingressaram a sua residência, pois sabia que haveria buscas. Estamos falando de ações violentas contra o estado democrático de direito. Estamos falando em tentativa de homicídio e armadilhas a policiais que estavam fazendo uma investigação. Não é aceitável que se proponha anistia”, defendeu o diretor-geral da PF.
Falhas de Inteligência
Questionado sobre possíveis falhas de inteligência, já que o autor do ataque circulava por Brasília desde meados do ano e publicava ameaças diretas nas redes sociais, o diretor-geral da PF defendeu a regulação das redes sociais para que a atividade de prevenção seja mais “efetiva”.
“É importante que se tenham normas e regras claras para o uso das redes sociais. Não é possível mais que a gente convida com esse tipo de ação. Esse caso talvez mostre de forma mais clara a necessidade que se tem de termos uma regulação para que as pessoas fiquem impunes livremente cometendo crimes. Espero que esta seja uma oportunidade para que aí sim a atividade preventiva possa se tornar mais efetiva.”
Investigação
A PF abriu um inquérito paralelo ao da Polícia Civil do Distrito Federal. Ele detonou explosivos no porta-malas do seu carro, que estava estacionado no Anexo 4 da Câmara dos Deputados. Segundo a investigação, a bomba no veículo estava com acionamento remoto.
Depois, se dirigiu à Praça dos Três Poderes, onde lançou artefatos na estátua da Justiça Cega e em direção ao prédio do STF. Após ser abordado por um vigilante, ele se deitou e colocou um explosivo na cabeça, que explodiu e o matou na hora. O boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil do Distrito Federal trata o caso como “auto lesão fatal”.