Documentos da operação da Polícia Federal, que investiga um suposto esquema de corrupção para liberar crédito da Caixa Econômica, indicam que além de empresas, partidos e políticos também foram beneficiados.
A Operação Cui Bono vasculhou na sexta-feira a sede da Caixa em Brasília, imóveis do ex-ministro Geddel Vieira Lima na Bahia e endereços no Paraná e em São Paulo.
Na decisão, o juiz Vallisney de Oliveira destacou que “valendo-se do cargo de vice-presidente da Caixa, Geddel agia internamente, em prévio e harmônico ajuste com o ex-deputado Eduardo Cunha, também do PMDB”.
O objetivo era beneficiar empresas com liberações de créditos em troca de propina. Mas para a Polícia Federal e o Ministério Público, o esquema foi utilizado também para beneficiar partidos e políticos.
No relatório, os investigadores dizem que os valores indevidos eram recebidos tendo como destinação o beneficiamento pessoal deles ou do PMDB.
As mensagens trocadas entre os envolvidos revelam a interação com integrantes do governo federal na época.
No dia 23 de maio de 2012, Lucio Bolonha Funaro, suspeito de ser operador do esquema, pergunta a Fábio Cleto, vice-presidente de Fundos e Loterias da Caixa, se ele se reuniu com o então ministro do Trabalho Brizola Neto, do PDT.
Cleto respondeu: “Sim ontem a noite fomos lá. Carlos – que segundo a polícia é um dos codinomes de Eduardo Cunha – é muito bem entrosado com o ministro. A vida do Furtado e do Vasconcelos vai ficar mais difícil agora”.
A Polícia Federal diz que Vasconcelos seria Marcos Vasconcelos, ex-vice-presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa. Ele também foi alvo da operação de sexta-feira.
E Furtado seria Paulo Furtado, integrante do Conselho Curador do FGTS. Nas conversas entre os integrantes do esquema, Furtado e Vasconcelos eram tidos como pessoas que atrapalhavam as negociações.
Dois dias depois do suposto encontro entre Fábio Cleto e Brizola Neto, o então ministro do Trabalho exonerou Paulo Furtado.
Em outra troca de mensagens o grupo demonstra a intenção de usar a proximidade com Brizola Neto para prejudicar Marcos Vasconcelos.
Funaro: “Eu conheço o ministro desde que ele foi deputado estadual”.
Fábio Cleto comemora: “Essa proximidade de vocês é excelente. Precisamos usar isso para … o Vasconcelos”.
Uma semana depois, ao falar sobre problemas que estariam tendo com o departamento de Marcos Vasconcelos, Fábio Cleto diz: “To discutindo com Carlos e Brizolinha o que podemos fazer para modificar esse rito”.
E completa: “Em outras palavras: tirar poder do Marcos”.
Marcos Vasconcelos permaneceu no cargo de vice-presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa até setembro de 2016.
Os investigadores registram também uma conversa em que empresas com negócios na Caixa e um político do PMDB são citados na mesma mensagem.
Em abril de 2012, Lucio Funaro diz a Fábio Cleto: “Tem que ver essa situação da Comport e Hypermarcas aí dentro pra andar rápido porque eles dois tão contribuindo com o Chalita e querem a contrapartida”.
Em 2012, Gabriel Chalita foi candidato a prefeito de São Paulo pelo PMDB. A investigação não conclui se Chalita recebeu alguma doação do esquema.
O deputado Gabriel Chalita afirmou que não pediu, não recebeu e desconhece completamente qualquer participação do Grupo Hypermarcas e do Grupo Comport em sua campanha à prefeitura de São Paulo. O Grupo Hypermarcas declarou que não realizou doações para Gabriel Chalita nem nunca possuiu nenhum tipo de contrato com a Caixa.
Os advogados de Geddel Vieira Lima reafirmaram a inexistência de qualquer ilícito que pudesse ser atribuído a ele e rechaçaram veementemente as frágeis e insustentáveis suposições feitas pela polícia e pelo Ministério Público. A defesa de Geddel também declarou que os esclarecimentos pertinentes serão sempre prestados perante as autoridades competentes.
A assessoria de imprensa do PMDB afirmou que o partido ainda não se posicionou. A defesa de Eduardo Cunha rechaçou as suspeitas divulgadas e informou que só vai se pronunciar especificamente sobre cada acusação depois de ter acesso à investigação. A defesa de Fábio Ferreira Cleto afirmou que ele é réu colaborador, e está colaborando efetivamente e espontaneamente com a Justiça. (AG)