A investigação da Polícia Federal, que mirava a suposta articulação de um golpe de Estado por parte de alguns dos empresários mais conhecidos do Brasil, acabou esbarrando com um exemplo cristalino da atuação do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro no disparo de desinformação e ataques às instituições.
A apuração iniciada no ano passado após o portal Metrópoles ter revelado conversas pró-golpe em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em um grupo frequentado por alguns empresários renomados.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a busca e a apreensão de aparelhos telefônicos e outros itens de oito desses investidores. Na última segunda-feira (21), o ministro do Supremo determinou que dois desses empresários permanecessem sob investigação: Meyer Nigri, fundador da Tecnisa, e Luciano Hang, da Havan. Os outros seis investigados tiveram as acusações arquivadas
No entendimento de Alexandre de Moraes, embora eles tivessem consumido e compartilhado desinformação, o fizeram dentro de parâmetros abarcados pela liberdade de expressão.
Bolsonaro e Nigri
No caso de Meyer Nigri, a apuração continuará por mais 60 dias, pelo menos. A PF cita a proximidade de Nigri com o ex-presidente da República e levanta a suspeita de que ele fosse um braço para disseminação de ataques às instituições em seus grupos de aplicativos de mensagens.
Uma mensagem em particular é mencionada pela Polícia Federal. A do contato “PR Bolsonaro 8”, que seria de um dos números de Bolsonaro, segundo registrado na decisão do Supremo.
O texto foi encontrado no celular de Nigri e traz não só ataques a integrantes do STF, como também notícias falsas sobre as urnas eletrônicas, pesquisas de intenção de voto e, por fim, a ordem: “Repasse ao máximo”, destacada em caixa alta.
A mensagem cita, ainda, uma suposta fraude e ataca um instituto de pesquisa, dizendo que ele inflava os números pró-Lula durante as eleições de 2022.
No texto atribuído a Bolsonaro, o ex-presidente ataca a ação do ministro do Supremo Luís Roberto Barroso de defender o “processo eleitoral como algo seguro e confiável” e trata a defesa do voto eletrônico como “interferência”.
Após a ordem para disparar a fake news e os ataques a Barroso e outros ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral não nominados, Bolsonaro recebe uma resposta de Nigri.
“Já repassei para vários grupos!”. Ao se despedir do agora ex-presidente, o empresário envia “abraços de Veneza”.
Depoimento de Bolsonaro
A Polícia Federal intimou o ex-presidente Jair Bolsonaro, nesta terça-feira (22), a depor sobre o caso de empresários que discutiram no aplicativo de mensagens WhatsApp a possibilidade de um golpe de Estado.
O depoimento está previsto para ocorrer no dia 31 deste mês. Interlocutores de Bolsonaro informaram que a defesa dele vai tentar adiar o depoimento até que os advogados recebam mais informações sobre esse inquérito. Bolsonaro já foi ouvido em outras quatro investigações desde que deixou o cargo.
Ele já se manifestou aos policiais por conta das apurações sobre as joias sauditas que lhe foram dadas como presentes, sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, sobre fraudes nos cartões de vacinas e, por fim, sobre um suposto plano de golpe de Estado.