Pela segunda vez em dois anos, uma seita fundada em São Paulo é alvo de operação da Polícia Federal por suspeita de manter fiéis em situação análoga à escravidão em fazendas comunitárias e movimentar R$ 100 milhões com dinheiro das vítimas.
Os mandados foram cumpridos nesta segunda-feira (17) na capital paulista e em cidades de Minas Gerais e da Bahia. Segundo a PF, seis prisões temporárias e 47 conduções à delegacia para prestar esclarecimentos, além de apreensões e bloqueios de bens como imóveis, veículos e dinheiro.
As investigações apontam que os líderes da seita, intitulada “Comunidade Evangélica Jesus, a Verdade que Marca”, convenciam os fiéis a doarem o que tinham para conviver em um espaço onde “tudo seria de todos” e eram forçados a trabalhar sem receber pagamento. Já os pastores, diz a PF, circulavam em carros luxuosos.
De acordo com o delegado da PF João Carlos Girotto, quatro integrantes da cúpula da seita foram presos. Um em SP, um em Minas e dois na Bahia. A PF não divulgou os nomes.
A operação usou como base depoimentos de pessoas que trabalharam nas comunidades. Ao menos outras duas operações já haviam sido feitas contra as lideranças, em 2006 e 2013.
“Com a operação de 2013, buscamos ingressar na estrutura da seita e descobrir seu modus operandi. Hoje, temos o panorama completo, sabemos que eles usam laranjas para movimentação de valores”, afirma Girotto.
Segundo o delegado, os pastores fazem um “convencimento psicológico” dos fiéis para que eles trabalhem sem receber. Inicialmente, conta, pedem que os bens sejam vendidos e os deslocam para isolamento em uma fazenda.
Depois, transferem para locais onde cada um possa exercer sua habilidade sem remuneração. “Se a pessoa já trabalhou com combustível, é colocado como frentista em um posto da seita, por exemplo”, detalha o delegado.
Fundada em 1998 e alvo de investigação ao menos desde 2006, a “Jesus, Verdade que Marca” chegou a rebater as acusações em seu extinto site, creditando as acusações aos “descontentes”.
“Assim começaram as primeiras perseguições, calúnias e difamações, começaram a mentir e a formarem opiniões contrárias, julgando-nos e condenando-nos perante às outras comunidades evangélicas cristãs”, diz o texto.
Na página, a seita também dizia que se colocava “à disposição dos órgãos governamentais” para “qualquer esclarecimento e também a quem interessar possa”.
A reportagem não conseguiu localizar representantes da doutrina. (José Marques/Folhapress)