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Polícia Federal investiga relação de atentado com o quebra-quebra do 8 de Janeiro

Segundo o diretor-geral da PF, há evidências de que o homem-bomba esteve em Brasília no início do ano passado. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A Polícia Federal (PF) investiga a relação entre os ataques cometidos pelo bolsonarista Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, na Praça dos Três Poderes, e os atos do 8 de Janeiro de 2023. O diretor-geral da corporação, Andrei Rodrigues, disse haver evidências de que o homem-bomba esteve em Brasília no início do ano passado. Além disso, um recado deixado por ele, antes do atentado de quarta (13), pode ajudar a esclarecer a conexão entre as investidas antidemocráticas.

Francisco Luiz provocou duas explosões próximas à estátua da Justiça, que fica em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Uma delas provocou a morte dele. Momentos antes, houve detonação no carro do extremista, estacionado no Anexo IV da Câmara.

“Há indícios de um planejamento a longo prazo. Ele já esteve em outra oportunidade em Brasília. Estava em Brasília no começo de 2023. Ainda é cedo para saber se houve ligação com os atos de 8 de janeiro, mas há investigação sobre isso”, afirmou Rodrigues, em coletiva de imprensa na sede da PF, na capital federal. Também participaram o superintendente da corporação do DF, José Roberto Peres, e o delegado Flávio Maltez Coca, da Unidade de Antiterrorismo do DF.

Segundo o diretor da PF, ainda não se sabe a motivação do crime, mas a polícia trabalha com a hipótese de ataque terrorista e atentado ao Estado Democrático de Direito.

Natural de Santa Catarina, Francisco Luiz tinha alugado uma casa há três meses em Ceilândia. A polícia encontrou na residência artefatos explosivos do mesmo tipo usado na Praça dos Três Poderes.

No espelho do banheiro, o extremista deixou uma mensagem para Débora Rodrigues, presa pela Operação Lesa-Pátria da PF. Foi ela quem escreveu a frase “Perdeu, mané”, com um batom vermelho, na estátua da Justiça, durante o 8 de Janeiro.

“Débora Rodrigues, por favor, não desperdice batom!!! Isso é para deixar as mulheres bonitas!!! Estátua de merda se usa TNT!”, dizia a mensagem.

O diretor da PF ressaltou que o ataque feito por Débora Rodrigues “não é só um ato de pichação”. “É um ato gravíssimo que atenta contra o Estado Democrático de Direito”, frisou.

Conforme Rodrigues, os investigadores tentam comprovar a conexão entre os atos. “O que nós temos, hoje, é a mensagem escrita citando essa pessoa (Débora Rodrigues) e vinculando com a questão da estátua”, afirmou. “Então, isso é um dos elementos, não é o único, mas nos aponta uma relação direta com esses episódios (8 de janeiro)”, completou.

A corporação apura outras possíveis ações de Francisco Luiz. O chefe da PF disse acreditar que esse não seja um fato isolado. Ele não descarta a participação de outras pessoas no atentado.

“Esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica. Entendemos que esse episódio de ontem (quarta-feira) não é um fato isolado, mas é conectado a várias outras ações, que, inclusive, a Polícia Federal tem investigado em um período recente”, destacou.

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Há indícios de que o bolsonarista planejou por longo tempo os ataques. Ele usou explosivos artesanais, “mas com grau de lesibilidade muito grande” e com “artefatos de fragmentação” que simulavam granadas, segundo Rodrigues.

Outro indício de premeditação foi um trailer ligado a Francisco Luiz, que continha explosivo. “Esse trailer foi alugado há alguns meses – não foi uma coisa recente – e estava em um ponto estratégico nas proximidades do STF, o que nos aponta para, de fato, um planejamento de médio e talvez de longo prazo e que sinalizam a gravidade de tudo isso que foi feito”, frisou o diretor da PF.

Relatoria

O presidente do STF, Luiz Roberto Barroso, distribuiu a relatoria do inquérito sobre as explosões ao ministro Alexandre de Moraes, pois ele já está à frente de casos que têm ligação direta com a nova apuração.

Moraes também é responsável pelos inquéritos das fake news, das milícias digitais e dos atos do 8 de Janeiro.

Em ofício encaminhado a Moraes, a Polícia Federal afirma – segundo as apurações iniciais – que o autor das explosões fez publicações em redes sociais sobre o atentado, nas quais ataca o Judiciário e convoca a população para uma revolução e tomada de poder.

A ex-mulher de Francisco Luiz afirmou em depoimento à PF que o alvo do atentado era Moraes.

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