A Polícia Federal (PF) investiga se, mesmo fora da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem tinha acesso aos sistemas e atendia a pedidos da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Dois indícios acenderam o alerta dos investigadores. O primeiro foi a apreensão de um notebook e de um celular da Abin com Ramagem na última quinta-feira (25), na Operação Vigilância Aproximada. Ele deixou o comando da agência em 31 de março de 2022, ou seja, há quase dois anos.
A Abin disse que não deu falta dos equipamentos e que a responsabilidade de devolver o material era do então diretor. A agência alega que ele perdeu acesso aos sistemas quando se desligou da instituição. Ramagem, por sua vez, disse em entrevista à Globonews que os dispositivos não eram usados há mais de três anos.
O segundo indício que levou a PF a desconfiar que Ramagem pudesse ter algum meio de obter informações, via Abin, é o pedido feito pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), por meio de uma assessora, para conseguir dados de inquéritos de interesse da família Bolsonaro. A servidora diz que precisa “muito de uma ajuda”, informa o número das investigações e acrescenta que elas envolveriam o “PR (presidente da República) e 3 filhos”.
A conversa aconteceu após outubro de 2022, meses após Ramagem deixar a Abin para disputar as eleições. Ele foi eleito deputado federal.
A PF busca descobrir se, mesmo fora da agência, Ramagem usou clandestinamente suas credenciais para acessar os sistemas de inteligência. Outra hipótese é a de que ele tenha se valido de aliados na Abin para conseguir informações. Sete policiais federais que auxiliavam Ramagem no órgão foram afastados por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
A Abin é o principal órgão do sistema de inteligência federal e tem como atribuição produzir informações estratégicas sobre temas sensíveis, como ameaças à democracia e às fronteiras, segurança das comunicações do governo, política externa e terrorismo. Para a PF, a agência foi instrumentalizada no governo Bolsonaro e usada para atender interesses privados do grupo político do ex-presidente.
A Polícia Federal acredita que aliados de Bolsonaro infiltrados na Abin faziam parte de um grupo mais amplo responsável por uma espécie de serviço clandestino de “contrainteligência”.