A Polícia Federal (PF) pretende concluir ainda neste ano o inquérito sobre o uso indevido de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ilegalmente autoridades e políticos durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). A declaração foi feita pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues.
O caso, conhecido como “Abin paralela”, envolve o uso de recursos da Abin para fins políticos e pessoais, sem a devida autorização judicial, e está ligado à investigação de uma possível tentativa de golpe de Estado em 2022.
De acordo com a PF, há uma conexão direta entre esse inquérito e a tentativa de subverter a ordem democrática no País após as eleições de 2022. Em uma recente revelação, os investigadores detalharam que, durante o período pós-eleitoral, os envolvidos no golpe teriam até mesmo planejado o assassinato de autoridades. Além disso, a PF indicou que os golpistas estavam organizados em “núcleos”, um dos quais era o “Núcleo de Inteligência Política”, que teria sido responsável por ações como o monitoramento ilegal de políticos e figuras públicas.
A lista de indiciados no inquérito sobre o golpe inclui Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e atual deputado federal. Ramagem, que foi um dos principais responsáveis pela condução da agência durante o governo Bolsonaro, também foi interrogado no âmbito da investigação “Abin Paralela”, aberta com base na Operação Última Milha.
Em depoimentos, foi revelado que Ramagem chegou a gravar uma reunião entre o presidente Bolsonaro e advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL), na qual discutiam estratégias para defender o filho do então presidente em um processo judicial. Esse áudio é parte da investigação que foi iniciada em 2023.
Ramagem também foi alvo de mandados de busca e apreensão, e a PF já identificou políticos, jornalistas e outras autoridades que foram monitorados ilegalmente por agentes da Abin.
Em setembro, a polícia interrogou agentes da Abin que estavam diretamente envolvidos no acesso irregular ao sistema de inteligência, conhecido como First Mile. A investigação visa identificar os responsáveis pelos acessos ilegais e aqueles que deram as ordens para tais ações, além de apurar eventuais tentativas de obstrução da Justiça.
No final das investigações, os envolvidos poderão ser acusados de vários crimes, como organização criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático. A conclusão do caso está prevista para ocorrer até o final de 2024, e novas revelações podem surgir à medida que as apurações avançam.