Um dos quatro presos pela Polícia Federal nesta sexta-feira (21) na Operação Métis, o policial legislativo Geraldo César de Deus Oliveira afirmou em depoimento à PF que uma das varreduras feitas por ele ocorreram na casa de um genro do então senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA) para a campanha política do peemedebista ao governo do estado, em 2014. Oliveira foi solto nesta sexta após prestar o depoimento.
Oliveira foi um dos quatro policiais presos pela PF em Brasília sob a acusação de prestar serviço de contrainteligência para ajudar senadores investigados em operações da PF, como a Lava Jato. A suspeita é que esses policiais faziam varreduras nas casas de políticos para, por exemplo, identificar e eliminar escutas instaladas com autorização judicial.
No depoimento, Geraldo Oliveira relatou que uma das primeiras varreduras que fez foi no Maranhão, “por ordem do diretor do Senado”.
Segundo o policial, quando ele e mais um colega desembarcaram no estado, “certas pessoas” os buscaram no aeroporto e os levaram a uma casa “suntuosa”, onde foram recebidos momentos depois por Marcos Regada, genro de Edison Lobão Filho.
À Polícia Federal, Oliveira acrescentou que o genro pediu aos policiais para fazer uma varredura nessa mesma casa.
“[Oliveira disse] que no dia seguinte, quando receberam a ordem para varredura em outros dois lugares, acabaram descobrindo que, no dia anterior, haviam, na verdade, feito varredura na casa do genro do senador [Lobão Filho], e não na residência do parlamentar”, diz o documento da Polícia Federal.
“[Oliveira também disse] que, para sua surpresa, o genro do senador acabou revelando que o motivo [da varredura], na verdade, não estava relacionado com o exercício do mandato do senador, e sim relacionado com a campanha política de Edison Lobão Filho para o governo do estado [do Maranhão]”, acrescenta.
O que diz a defesa
Procurado pela reportagem, o advogado de Lobão Filho, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, criticou a Polícia Federal e o Ministério Público por terem atribuído ao ex-senador uma suposta tentativa de obstruir as investigações da Lava Jato.
“Houve o dia inteiro a acusação de obstrução da Lava Jato e agora se reduz para a questão de campanha no Maranhão. É a comprovação de abuso de poder do Ministério Público e da Polícia Federal e espero que o procurador-geral da República [Rodrigo Janot, chefe do MP] tome providências. É a prova de que parte do PF e do MP faz uso político da Lava Jato”, afirmou.
Sobre a suspeita de uso de servidores para a campanha, Kakay se recusou a responder, dizendo tratar-se de uma questão administrativa a ser esclarecida posteriormente.
Curso nos Estados Unidos
Geraldo Oliveira iniciou seu depoimento afirmando que, por ter curso de direito, foi lotado na Coordenação de Polícia de Investigação do Senado, quando passou a ter contato com aparelhos de contrainteligência, classificados por ele de “obsoletos”.
Em seguida, ele explica que o Senado tinha dois aparelhos Orion, capaz de fazer varredura física e detectar dispositivos eletrônicos instalados internamente (como um “bug” na parede, em uma mesa ou em uma cadeira).
Posteriormente, explicou, o Senado deu andamento à compra de outros dois aparelhos do tipo Oscor (capazes de fazerem leitura de radiofrequê) e outros dois Talan (para medida de contrainteligencia em linhas de telefone fixo e em fiação elétrica).
“[Geraldo Oliveira disse também que] que pouco tempo depois da aquisição [dos novos equipamentos] foi pago, pelo Senado, curso para [os policiais poderem] operar esses aparelhos. [Disse ainda] que quem fez o curso foram o interrogando [Oliveira] e o Antonio Tavares [também preso], e que esse curso foi em novembero de 2015 com duração de um mês nos Estados Unidos, em viagem oficial, com passaporte oficial, pagamento de diárias etc”, relata a Polícia Federal.
Outras varreduras
O policial também relatou, em outros trechos do depoimento, outras varreduras feita por ele e outros policiais legislativos. Antes disso, ele explicou que quem faz os pedidos de varreduras são os próprios senadores.
Segundo Geraldo Oliveira, “por colaboração”, o grupo também fez varreduras no gabinete do presidente da Câmara. O policial, contudo, não chegou a dizer quando foi isso, quem era o presidente da Casa à época ou quem fez o pedido.
Outras varreduras, diz o policial, foram feitas na residência oficial do senador Fernando Collor (PTC-AL) e na “Casa da Dinda” imóvel do parlamentar, “logo depois da Operação da Polícia Federal, no âmbito da Lava Jato”.
Além disso, Geraldo Oliveira afirmou que varredura foi feita na residência da senadora Gleisi Hofmmann (PT-PR) em Curitiba (PR), a pedido dela, “depois da Operação da Polícia Federal”.
“[Oliveira disse] que relataram ao interrogando que a senadora se sentia insegura de voltar para casa, pois ela não estava lá no dia da busca e não sabia quem tinha entrado na casa, ‘se era polícia ou outra pessoa’ […] que ela teria dito que só voltaria para casa após a realização da varredura eletrônica”, relatou a PF.
“[Geraldo Oliveira disse ainda] que relatou ao seu chefe imediato Everaldo Bosco que não estava seguro em realizar a varredura na casa da senadora, por ser em Curitiba e temer dar aparência de que a Polícia do Senado estaria protegendo a parlamentar; que, na verdade, nesse momento, somadas todas as circunstâncias anteriores, desconfiava muito do real interesse das ordens recebidas”, conclui a Polícia Federal.
Versões
O senador Fernando Collor se manifestou por meio de nota divulgada pela assessoria, na qual informou: “Não tem conhecimento acerca dos fatos narrados na manhã de hoje e nega que tenha se beneficiado de qualquer ação da Polícia Legislativa do Senado Federal que seja estranha às suas funções institucionais”.
Gleisi Hoffmann também divulgou uma nota, na qual disse ter pedido ao Senado uma verificação e uma varredura eletrônica em suas residências, via pedido formal, em razão de uma operação da PF em sua casa sem sua presença ou de alguém da família.
“Esse serviço da Polícia Legislativa existe regularmente há muito tempo. Temos todo processo de pedido formalizado. Tudo dentro das normas do Senado. Fazer isso não configura obstrução alguma. Apenas queria ter informação de segurança sobre minha residência”, dizia a nota. (AG)