Segunda-feira, 07 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de abril de 2025
A investida do governo de Donald Trump contra a academia e a ciência americanas corre o sério risco de vir a figurar na galeria de desastres históricos autoinfligidos.
As ações se dão em várias frentes. A de maior visibilidade recentemente foi o corte de verbas federais para instituições de elite. A Universidade Columbia perdeu US$ 400 milhões; a UPenn, US$ 175 milhões; bolsas foram suspensas em Princeton; o governo diz que está revisando acordos de US$ 9 bilhões para Harvard.
A Casa Branca alega que as instituições não agem contra o antissemitismo como deveriam.
De fato, sob inspiração do movimento identitário, essas universidades eram inconsistentes na aplicação de sua disciplina interna. Professores e alunos que discordassem de consensos progressistas eram rapidamente punidos, mas a tolerância para com discursos contra judeus e Israel era quase inesgotável.
Esse, contudo, é um problema que deve ser resolvido pela gestão acadêmica interna, sem interferência estatal.
Ademais, pela lei americana, até discursos nazistas são protegidos pela liberdade de expressão. E contam-se nos dedos os casos em que as manifestações pró-Palestina deram lugar a agressões e crimes que exigem intervenção de autoridades.
Note-se que o governo foi além das verbas e mirou alguns estudantes e professores estrangeiros envolvidos nos protestos, com cancelamento de vistos, detenções e potenciais deportações —contrariando o ideário liberal que fundou os EUA.
Outra frente é o esvaziamento de agências e institutos federais de pesquisa. Em nome da eficiência governamental, setor a cargo do empresário Elon Musk, vários órgãos tiveram seus orçamentos drasticamente reduzidos, e milhares de cientistas atuantes em setores vitais, como saúde, agronomia, meteorologia e ambiente, correm risco de ser demitidos.
É difícil estimar a magnitude dos danos, mas alguns resultados nefastos são previsíveis. Pesquisas importantes serão interrompidas, e parte do corpo científico que hoje desbrava as fronteiras do conhecimento será desmobilizada. Jovens talentos de todo o mundo, que se dirigiam aos EUA para aprimorar sua formação e eventualmente radicar-se lá, pensarão antes de fazê-lo.
Trump está erodindo, sem nenhum respaldo em evidências, as bases da liderança que o país vinha exercendo no setor ao longo do último século. E, pior, o fazem num momento em que a China, com seu governo autoritário, busca espaços para ocupar. (Opinião/Folha de S.Paulo)