Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de janeiro de 2024
Um dia, cerca de dez anos atrás, um colega bateu à porta de Gonzalo González Abad com uma pergunta inesperada. Se você estivesse procurando sinais de uma civilização extraterrestre tecnologicamente avançada, a anos-luz de distância de nós, como você tentaria encontrá-los?
González Abad é cientista atmosférico do Centro Harvard-Smithsoniano de Astrofísica, nos Estados Unidos. Ele pensou por um momento e respondeu: “CFCs”, os clorofluorcarbonos.
Na Terra, diversos objetos, como latas de aerossol e refrigeradores, passaram anos liberando esses gases em imensos volumes — até que descobrimos que os CFCs estavam destruindo a camada de ozônio.
“Eles duram por muito tempo – e, com certeza, não são produzidos pela natureza”, afirma González Abad.
Por isso, se alguma população alienígena poluísse seu mundo como nós fizemos com o nosso no século 20, os nossos telescópios poderiam simplesmente detectar a presença de CFCs na atmosfera de outros planetas.
Esta seria, potencialmente, uma indicação de uma cultura rica em tecnologia em outro ponto do universo – o que os cientistas chamam de “tecnoassinatura”.
Em outras palavras, talvez não sejamos os únicos… a bagunçar com um planeta. Da mesma forma que o lixo das pessoas pode revelar os seus segredos, as civilizações extraterrestres podem se deixar mostrar por pura negligência.
Ao longo dos anos, pesquisadores vêm se debruçando bastante sobre este assunto. Eles encontraram diversas possibilidades de tecnoassinaturas — do excesso de luz até fragmentos espaciais ou gases nocivos na atmosfera de um planeta extraterrestre.
Estão surgindo telescópios suficientemente poderosos para detectar as tecnoassinaturas. E muitos cientistas esperam que eles possam ser utilizados nas próximas décadas para tentar encontrar vida em outros planetas.
O lixo está por aí, esperando para ser encontrado. Ou não.
Em busca dos poluentes
Em 2014, González Abad publicou com outros autores um estudo que discutiu a possibilidade de encontrar seres extraterrestres por meio das emissões de CFC.
Os pesquisadores calcularam que, se a concentração desses gases na atmosfera de um planeta distante atingir cerca de 10 vezes a sua concentração na Terra, talvez seja possível detectar sua presença com o telescópio espacial James Webb, que iniciou suas operações em 2022.
Basicamente, os CFCs podem permanecer na atmosfera de um planeta por dezenas de milhares de anos. Isso significa que uma civilização extraterrestre não precisaria, necessariamente, produzi-los por muito tempo para deixar traços de atividade.
O cloro na atmosfera da Terra está atualmente ali devido à emissão de CFCs de décadas passadas. Hoje, esses gases são proibidos em todo o mundo, mas existe ainda muito trabalho a fazer para sua completa eliminação.
Talvez seja possível detectar CFCs com o telescópio espacial James Webb se o planeta poluído orbitar uma pequena estrela anã branca, segundo indicam González Abad e seus colegas. Isso aumentaria as possibilidades de que quantidade suficiente de luz chegasse até a Terra.
Os cientistas conseguem procurar CFCs e diversas outras substâncias na atmosfera de planetas distantes estudando os espectros – comprimentos de onda específicos – da luz refletida por mundos alienígenas.
Como parte da luz é absorvida por certas substâncias durante a passagem pela atmosfera, as características exatas da luz emitida podem revelar quais substâncias estão presentes em um corpo distante.
Muitas das categorias de tecnoassinaturas extraterrestres já discutidas são inspiradas pelos poluentes criados pelos seres humanos aqui na Terra.
Os cientistas já consideraram, por exemplo, a possibilidade de se encontrar civilizações extraterrestres ao detectar quantidades imensas de calor residual emitidas por fontes industriais.
Outros sugeriram que, no caso de alienígenas que possam ter sucumbido a uma guerra nuclear em larga escala no seu planeta, poderíamos observar da Terra os flashes brilhantes da explosão das suas ogivas.