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Por Redação O Sul | 29 de dezembro de 2022
A tendência de envelhecimento da população brasileira é uma realidade que vai exigir adaptações e melhorias nas políticas públicas para os idosos nas próximas décadas. Uma das questões que serão fundamentais, segundo especialistas, será a maior atenção à vacinação de adultos para que as pessoas envelheçam de maneira mais saudável e se previnam de forma a evitar pressões maiores sobre o sistema de saúde público.
A parcela de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 11,3% para 14,7% da
população entre 2012 e 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% no período.
O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, destaca que, ao observar um período mais longo, nota-se que em 1950 apenas 4,9% da população brasileira tinha 60 anos ou mais. “Agora está em 14% e a projeção para 2100 aponta que essa faixa etária representará 40% da população no país”, diz, citando dados do IBGE e estimativa do Ministério da Saúde.
“Portanto, temos que pensar em processo de envelhecimento saudável que envolve desde a promoção de atividades físicas e boa alimentação até políticas públicas e avaliações individuais que contemplem as vacinas de rotina”, acrescenta.
O cenário estimulou a SBim e a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) a promoverem um calendário vacinal para adultos e idosos. Nele, há vacinas de rotina que são oferecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e outras que podem ser encontradas na rede privada.
Cunha explica que, somado ao problema da baixa cobertura vacinal no país a partir de 2015 em todas as faixas etárias, o Ministério da Saúde oferece dentro do Programa Nacional de Imunização (PNI) as vacinas que já têm custo-benefício comprovado, como a da gripe. Porém, a tendência é que outros imunizantes voltados ao público adulto e idoso integrem o PNI em meio ao envelhecimento da população. Enquanto isso, é válido que o governo comece a fazer campanhas mais amplas para que os idosos sejam informados sobre quais vacinas devem tomar ou atualizar. Também recomenda que pacientes e médicos tenham o hábito de avaliar quais vacinas vale a pena buscar na rede privada.
“O sistema público pensa na saúde coletiva, e isso está correto, especialmente
levando em consideração que é preciso ter o custo-benefício comprovado. Mas, em termos de saúde individual, o médico deve preconizar o máximo de proteção possível”, comenta presidente da SBim. Ele cita como exemplo a vacina de HPV, que combate o papilomavírus humano, doença sexualmente transmissível que provoca verrugas nas áreas genitais e que, em alguns casos, pode levar ao câncer. Na rede pública é aplicada gratuitamente em adolescentes somente até os 14 anos.
“O Brasil tem um dos calendários mais completos para todas as faixas etárias, mas ainda temos muito a evoluir. A vacina de HPV é um grande exemplo. Atualmente fazemos como rotina apenas para adolescentes, mas, se com o tempo conseguirmos demonstrar que ajuda a prevenir câncer em outras faixas etárias, a disponibilidade dela pode ser ampliada. Por isso que temos diferenças entre o que é oferecido na rede pública e na rede privada”, afirma Cunha.
Para pessoas que já passaram dos 60 anos e principalmente para quem está com mais de 80 anos, as principais vacinas de rotina são as que combatem a pneumonia. No sistema público, elas também limitadas a pessoas que estão em estado mais grave, mas são consideradas importantes pelos médicos para evitar infecções graves em idosos que podem acabar exigindo tratamentos mais complexos que demandarão mais do SUS.
“O Brasil é reconhecido internacionalmente pelo PNI, principalmente pelo calendário de vacinação infantil, mas ainda falta muito em relação ao público que está envelhecendo. Existem vacinas contra pneumonia que não são tomadas e não há nem mesmo campanhas alertando os idosos sobre a recomendação de se vacinar contra essa doença. Até mesmo a vacina da gripe tem tido baixa adesão nos últimos anos”, critica a presidente da Comissão de Imunização da SBGG, Maisa Kairalla.
“É impressionante, mas a maioria dos idosos nem sabe da necessidade da
vacinação. Existe uma anticultura em relação a isso. As pessoas têm medo da
prescrição da vacina”, complementa Kairalla dizendo que é necessário um
engajamento político maior dos governantes para imunizar adultos e idosos e,
também, criar condições para aumentar a capacidade de produção dessas vacinas dentro do país. Isso, segundo ela, ajudaria a tornar o calendário vacinal para essa faixa etária mais acessível a todos e menos restrito a pacientes que já apresentam comorbidades.
“Parece que os governantes ainda não entenderam o processo de envelhecimento rápido que estamos passando. As peças publicitárias, os cinemas, a cultura, a comida, tudo está pensado para o público jovem, inclusive o calendário vacinal do PNI. Precisamos urgentemente pensar em políticas públicas para o idoso porque o processo está em andamento ágil e tem se falado muito pouco disso”, conclui a médica ligada à SBGG.