Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 22 de agosto de 2024
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou apreender o celular do perito Eduardo Tagliaferro. A ordem foi emitida nessa quinta-feira (21), enquanto ele prestava depoimento à Polícia Federal em São Paulo. O delegado que conduziu a oitiva consultou o advogado Eduardo Kuntz, que representa Tagliaferro e acompanhou a audiência, se ele entregaria espontaneamente o aparelho. Diante da recusa da defesa, e já munido do mandado de busca pessoal, o delegado confiscou o celular.
O perito prestou depoimento em um inquérito sigiloso aberto para investigar a fonte do vazamento das mensagens que indicam o trânsito direto entre auxiliares do gabinete de Alexandre de Moraes no STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no curso de investigações sobre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Tagliaferro foi chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE.
O aparelho apreendido pela PF não é o mesmo que esteve na posse da Polícia Civil de São Paulo em maio de 2023. Há suspeita de que as conversas divulgadas pela Folha de S. Paulo tenham sido extraídas do antigo celular do perito. Não se sabe, no entanto, se foi ele próprio quem levou os diálogos a público.
Tagliaferro nega veementemente ter divulgado as mensagens. A interlocutores, tem afirmado que não vazou os dados de seu próprio celular e que “jamais iria se expor e colocar sua vida sob risco”. A versão foi reafirmada na manhã dessa quinta no depoimento à PF.
Ao determinar a instauração da investigação, Alexandre de Moraes citou expressamente a Polícia Civil de São Paulo e a suspeita de vazamento “criminoso”. O inquérito foi aberto de ofício, ou seja, sem pedido de órgãos de investigação, como o Ministério Público.
Entenda o caso
Em maio de 2023, o perito foi preso em flagrante, sob acusação de violência doméstica, o que levou à sua exoneração do cargo no TSE. Na ocasião, o celular dele foi apreendido pela Polícia Civil de São Paulo. Consta no boletim de ocorrência que o aparelho foi lacrado, ou seja, teria ficado indevassável. O celular passou seis dias na Delegacia Seccional de Franco da Rocha, na Grande São Paulo.
Segundo a defesa, na época, para não ficar sem telefone, Tagliaferro comprou um novo aparelho enquanto aguardava a liberação do antigo. Ao receber o celular de volta, ainda de acordo com o advogado Eduardo Kuntz, ele percebeu que o telefone já não funcionava corretamente e decidiu inutilizá-lo. O aparelho teria sido destruído e descartado.
A apreensão do celular atual do perito foi criticada pelo advogado Eduardo Kuntz: “Ele (Tagliaferro) foi intimado como testemunha para prestar esclarecimentos. Ao final, o delegado pede o telefone. Ora, a investigação se dá por conta da apreensão ilegal de um telefone. Eu não concordei e não concordo, como defesa. Orientei meu cliente a não fazer a apresentação espontânea do celular, sem uma ordem judicial.”
Segundo Kuntz, horas depois o delegado exibiu mandado de busca pessoal emitido pelo ministro Alexandre de Moraes. “Mandado de busca e apreensão de testemunha? Mas ele (Tagliaferro) não é investigado! É sempre uma surpresa.”