Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de julho de 2017
A palavra “condenação” sumiu do dicionário e foi substituída por “preocupação”. A forte pressão exercida pelo Uruguai impediu que o Mercosul se pronunciasse na sexta-feira (21) de forma contundente sobre a crise política e social que assola a Venezuela. Depois de redigirem um primeiro documento preliminar no qual o bloco reconhecia “a recente expressão popular organizada” pela oposição (a consulta de domingo passado) e solicitava ao governo do presidente Nicolás Maduro que “não realizasse a Assembleia Constituinte no dia 30 de julho, nos termos nos quais foi colocada”, os presidentes de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai assinaram uma resolução bem mais moderada, na qual não são mencionados o plebiscito opositor e, tampouco, a Constituinte de Maduro.
Até aí chegou o consenso do Mercosul sobre a crise venezuelana. Paralelamente, Maduro e seus opositores foram convidados para uma rodada de consultas em Brasília — embora seu governo não reconheça o de Michel Temer — ainda sem data marcada. Segundo fontes argentinas e uruguaias, não houve acordo para aprovar uma declaração mais dura por pressões do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez. E nada se faz no Mercosul se não houver adesão de todos os membros.
“Nós, pessoalmente, queríamos uma declaração mais forte”, disse o secretário de Relações Internacionais do governo argentino, Fulvio Pompeo.
Mas o Uruguai tem limitações claras. O governo do presidente Vázquez precisa aprovar uma série de projetos no Parlamento este ano e depende do respaldo de toda a governista Frente Ampla, onde a ala comandada pelo senador e ex-presidente José Mujica (2010-2015), simpática ao chavismo, é majoritária.
“Tabaré sabia que não teria margem de ação em Mendoza”, comentou uma fonte uruguaia.
Na declaração final, também assinada pelos governos de Chile, Colômbia, Guiana e México, os países apontam que “a solução da crise só poderá ser resolvida pelos venezuelanos”. “Fazemos um chamado urgente ao fim de toda violência e a liberação de presos detidos por razões políticas”, diz o documento.
Para fontes argentinas, falar em presos políticos é uma novidade que deve ser destacada.
“Há um ano e meio (na última cúpula do bloco, no Paraguai), somente o presidente Mauricio Macri falava sobre isso no âmbito do Mercosul.
Questionados, os chanceleres do Brasil e da Argentina, Aloysio Nunes e Jorge Faurie, respectivamente, minimizaram a discussão. Na véspera, o vice-chanceler argentino, Daniel Raimundi, afirmara que o bloco poderia adotar “medidas políticas”.
“As declarações são fruto do consenso, nisso está a força do que pode ser dito… não importa quem disse o que”, apontou Faurie. (AG)