Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de outubro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
As redes sociais revelam a ambiguidade fundamental de nossa condição. Democratizam o acesso à informação, mas também permitem a disseminação de todo tipo de boato e notícia falsa. Vivemos a era das narrativas. Fake news.
A culpa, é óbvio, não é das redes sociais em si. Felizmente, ainda — ainda — é possível compartilhar coisas úteis, interessantes, e não só fake news de candidato. Recebi, dia desses, um interessantíssimo vídeo que, depois, descobri tratar-se do curta metragem Alternative Math — Matemática Alternativa.
Recomendo que assistam. Em vez de perder tempo em ‘uatiszap’ da família, brigando com o primo imbecil ou a tia que acha que Darwin era um charlatão, assista ao vídeo.
Mas, resumindo: na escola, um menino é repreendido pela professora ao escrever que 2 + 2 = 22. Nada mais normal, certo? Um aluno ou aluna em idade escolar chega na resposta errada, o professor ou professora corrige.
Pois é. Acontece que, talvez, já não mais seja bem assim. Os pais do aluno perguntam à professora: “Ora, quem é você pra dizer que sua resposta é certa, e a dele, errada?” O caso chega na direção da escola, nos outros professores, na mídia local, enfim… Long story short, a professora é demitida e a mídia repercute a demissão de uma “professora ativista que reprime o aluno por suas visões pessoais”.
A distopia do vídeo é genial porque mostra a ronha em que estamos: “Ora, quem é você pra dizer que sua resposta é certa, e a dele, errada?”
Não é o aluno que está errado. Errada está a professora que enche o saco. Por que 2 + 2 não pode ser 22? Nós engendramos a tese de que, bem, “tudo é relativo”. “Não há verdades”. “É questão de opinião”.
Acontece que nem tudo é relativo. Há verdades, e, mais do que isso, há critérios a partir dos quais se pode dizer qual é a verdade. Direitos humanos, direitos fundamentais, são conquistas civilizatórias. Se eu digo que não há verdades, como posso sustentar que é verdade que não há verdades? Se digo que todos mentem, sou um mentiroso; se digo que se pode dizer qualquer coisa sobre qualquer coisa, estou dizendo aos leitores que o que digo nada significa.
Quem diz o que quer e atribui o significado que deseja a qualquer coisa é Humpty Dumpty, de Alice através do Espelho. Pois é. Este país é incrível.
Vamos ganhar o prêmio Ignóbil. Um deputado entrou com projeto, em 2018, para permitir que as pessoas andem armadas a bordo de aviões. Poxa. Se o mundo soubesse disso, já de há muito não haveria sequestros e atos terroristas. Si vis pacem parabellum. E eu vou estocar alimentos. Ou vou abrir uma loja de armas.
Vejam em que pé estamos no 2+2=22. Um vereador de São Paulo afirma que a KKK – Ku Klux Klan – é de esquerda. A comunidade negra norte-americana deve ficar feliz com esse “achado histórico” do vereador paulista, por sinal, negro como os perseguidos – e mortos – pela KKK. Como a gente aprende coisas… O vereador paulista deve ter estudado isso na Bullshit University II, no livro How to Offend the US Black Community, da Extreme Right Press. Da mesma editora, o mais recente livro How to teach the art of white supremacy to KKK? And KKK is not laughing emoji. Taí a explicação: o “grande historiador contemporâneo” – nosso preclaro vereador paulista – achou que KKK era um emoji. Bingo. Meu Deus.
E competindo para o Prêmio Ignobil, um delegado de polícia do RS, afirma, de pés-juntos, que a suástica é um símbolo hindu ou budista. Vai ver que também pensou que era um emoji. E, pior: nada disso é fake news. Creiam. Ah: a terra é redonda, sim. Não é plana.
É. 2+2+22.
Ah: ao final, a professora é demitida e o diretor quer pagar a ela 2 mil dólares do salário mais 2 mil de indenização. Ela se vinga e diz: então você me deve 22 mil dólares. Afinal, 2 + 2 não são 22? Bingo.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.