Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de novembro de 2024
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tornou-se o primeiro republicano a conquistar maioria no voto popular nas urnas em duas décadas, resultado que foge ao equilíbrio sugerido pela maioria dos institutos de pesquisa. Desde meados de setembro, as sondagens de opinião pública indicavam disputa acirradíssima entre Trump e a vice-presidente Kamala Harris, com a média dos levantamentos resultando num empate técnico que não se comprovou após a abertura das urnas.
A plataforma desenvolvida por Nate Silver — espécie de “guru” da pesquisa política nos EUA — por exemplo, mostrava indefinição nos sete estados-pêndulo decisivos para a eleição americana. Trump liderava por margens estreitas em Nevada, Pensilvânia, Carolina do Norte, Geórgia e Arizona, enquanto Kamala estava à frente em Michigan e Wisconsin. O republicano, porém, levou seis deles e está perto de confirmar o sétimo — Arizona, onde lidera por 52,6% dos votos com 78% das urnas apuradas: uma “varrida”, como dizem os americanos.
Na Flórida, as pesquisas sugeriam que Trump estava cinco pontos percentuais à frente, mas ele teve vitória bem mais expressiva, com 13 pontos na dianteira. Em Nova Jersey, esperava-se que a vice teria até 20 pontos de vantagem, mas ela superou o republicano por só seis pontos.
As reflexões acerca do aparente descompasso entre pesquisas e realidade são complexas e pouco conclusivas — até hoje se estudam as eleições de 2016 e 2020, quando os institutos também não foram capazes de mensurar fielmente a força política de Trump. A Associação Americana para Pesquisa de Opinião Pública (Aapor, na sigla em inglês) está reunindo um comitê para analisar o que deu certo e errado.
Uma hipótese já bem aceita entre analistas da área é a de que as pesquisas não conseguiram estimar o apelo eleitoral do republicano junto aos latinos, negros e jovens, sobretudo a parcela desses grupos menos engajada politicamente.
Nos EUA, a maior parte das pesquisas é feita por telefone ou por painéis on-line. A esmagadora maioria das entrevistas não chega ao fim ou sequer é atendida. Responde quem quer, e normalmente esses são aqueles mais interessados na eleição, cujo voto vale tanto quanto os dos que não têm o mesmo apetite pelo tema.
Latinos
Levantamento do New York Times constatou que Trump avançou 13 pontos percentuais em comunidades majoritariamente latinas em relação à votação alcançada por ele quatro anos atrás. Uma pesquisa de boca de urna realizada em dez estados-chave pela NBC News descobriu que quase a metade (46%) desse grupo havia votado no republicano, o que o ajudou a não só obter vitórias mais expressivas em seus redutos, como também a superar as expectativas onde Kamala tinha domínio claro.
No Bronx, em Nova York, onde negros e latinos são quase 90% dos residentes, Trump praticamente triplicou a votação em relação à sua primeira disputa presidencial. Foram 27% os que votaram no presidente eleito, que em 2016 obteve só 10% do apoio por ali.
“Subestimaram o eleitor de Trump que tende a estar menos engajado politicamente e que é mais propenso a estar ocupado, sem tempo para passar 20 minutos falando com entrevistadores. São pessoas com empregos comuns ou, como no caso de muitos eleitores latinos, conciliando dois ou três empregos ao mesmo tempo”, avaliou James Johnson, cofundador da empresa de pesquisas J.L. Partners, à revista Newsweek.
Não é, porém, como se tudo isso tivesse passado despercebido pelas pesquisas. Os institutos identificaram mudanças no comportamento eleitoral por etnia, com brancos tornando-se mais democratas, e negros e latinos indo na direção oposta. Também alertaram que nenhum partido foi capaz até hoje de manter o comando da Casa Branca com um presidente tão mal avaliado como Joe Biden. Os dois últimos levantamentos do New York Times com o Siena College mostravam corretamente Trump à frente, e o resultado mais recorrente nas simulações feitas pela plataforma de Nate Silver era o placar de 312 a 226 pró-Trump — o que caminha para se confirmar.
Integrante da Aapor e diretor da Universidade de Michigan, Raphael Nishimura diz que a leitura mais comum entre seus colegas é de que as pesquisas foram mais fiéis agora do que em 2016 e 2020, e que o assombro de muitos com a “lavada” de Trump se deve em parte a uma leitura equivocada dos resultados.
“O que as pesquisas e agregadores diziam é que a corrida era apertada, especialmente nos três estados da Muralha Azul (Michigan, Wisconsin e Pensilvânia). E mostravam também que se esses estados pendessem para um lado ou para o outro, teríamos uma lavada. Foi o que aconteceu.” As informações são do jornal O Globo.