Nem Maria Bethânia consegue fingir normalidade diante de Chico Buarque. A cantora que, certa vez, afirmou ser “capotada” por ele e sentir um “ciúmes como se fosse meu namorado”, confessou que treme na base quando ele está plateia de seus shows.
Quando Chico apareceu na temporada intimista de “Claros breus”, que a baiana fez no Manouche (casa de shows na Zona Sul carioca) em 2019, ela não se aguentou: Mandou um “Buaaarque!” no final do verso da música “Taça” (de Chico César), que diz: “Molhando na chuva chamando o meu nome…”. O compositor respondeu com um sonoro “Maria!” ao surgir no camarim para cumprimentá-la após o show. É assim que os dois se tratam: Buarque e Maria.
A produtora Mila Chaseliov, de 42 anos, tatuou “brincando gostando de ser”, frase da composição “As vitrines” no braço esquerdo. Graças a uma das filhas do artista, ela conseguiu que ele escrevesse o trecho com sua própria letra num pedaço de papel, o que ela reproduziu na pele.
A obsessão de Mila começou ainda criança, mas foi aos 18 anos que ela tratou de realizar seu maior sonho: o de conhecer Chico pessoalmente. Após ser barrada no camarim de uma apresentação, Mila foi atrás dele um restaurante caro. Sorte que uma amiga estava com o cartão de crédito do pai para pagar a conta. Na última temporada carioca de um show de Chico, Mila foi a 11 noites.
O primeiro bloco totalmente feminino do país é o… Mulheres de Chico. Quando perguntam às integrantes se elas não enjoam de cantar o repertório buarqueano há 18 anos, a resposta é: “Impossível! Não tem domo”.
O compositor quase matou a mulherada do coração ao vestir a camisa da agremiação e enviar uma foto.
Afinal, por que Chico Buarque exerce tanto fascínio sobre as mulheres?
A resposta, segundo elas, vai muito além daqueles olhos azuis e do jeito tímido.
“Ele é lindo? É lindo. Claro que tem a aparência, mas acho que é o conjunto. Não é só a beleza. Ele é genial, brilhante em tudo que faz seja nos livros, nas músicas, nas letras das canções, Chico não para de surpreender. O fascínio começa pela coisa intelectual”, explica Mila.
A capacidade de traduzir sentimentos que nos invadem sem que consigamos colocar em palavras é outro aspecto apontado por Mila que, na adolescência, tinha rabiscada na parede de seu quarto a frase: “Chico Buarque é meu pastor e nada me faltará”.
“Aquilo toca dentro de você de uma forma que não achava que alguém pudesse entender as coisas que está passando. Vários corações partidos e também romances que deram certo têm uma trilha do Chico na minha vida. Os parceiros vão, mas o Chico fica. Chico é meu, acima de tudo isso”, afirma.
Fundadora, produtora e cuiqueira do Mulheres de Chico, Vivian Freitas, de 48 anos, destaca a tal da empatia, ou seja, a capacidade que o compositor tem de se colocar no lugar do outro.
“Ela faz isso com vários gêneros e minorias. Sofre como quem está do outro lado, com em “Geni”, sobre uma mulher trans. Se coloca no lugar das mulheres e defende as questões femininas. Tem uma sensibilidade gigante.”