Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de agosto de 2024
Embora favoráveis aos esforços de interlocução liderados pelo governo do Brasil, em parceria com México e Colômbia, países aliados demonstram nos bastidores receio e enxergam ambiguidades e contradições na proposta de diálogo em curso, especialmente sobre como proceder para checar o verdadeiro resultado da eleição presidencial na Venezuela.
Nos bastidores da diplomacia, franceses e americanos, por exemplo, duas das potências nucleares com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, fazem ressalvas e listam empecilhos para a verificação ocorrer dentro da Venezuela, em formato a ser discutido pelas forças políticas locais – chavismo e oposição.
Esse seria o passo seguinte a partir da eventual publicação das atas eleitorais, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), contendo os resultados por zona eleitoral, de forma completa, detalhada e transparente. É o que defendem atualmente três dos maiores países da região, com argumento proposto em dois comunicados conjuntos, direcionados ao regime chavista. Tanto o Brasil, quanto a Colômbia e o México são governados por aliados históricos do chavismo.
As diplomacias dos EUA e da União Europeia já declararam que as evidências até agora indicam uma vitória de González e a derrota do regime. Eles baseiam essa opinião em avaliações sobre as 24.576 atas de mesas de votação (82% do total) colhidas e publicadas pela oposição. Diplomatas reputam as atas como confiáveis. Dizem que elas foram exaustivamente analisadas por instituições independentes e que os números, cotejados com contagens rápidas e pesquisas de boca de urna, fazem sentido.
Há declarações de apoio e apreço pela busca de interlocução por parte do Brasil – uma política de “manter a porta aberta” – para obter mediação entre regime e opositores. É uma postura pragmática e vista como positiva, o caminho correto a se seguir no momento. Mas a maioria defende que seria necessária uma verificação internacional do resultado, a partir da publicação das atas.
Um dos argumentos citados por esses diplomatas é que, embora existam especialistas venezuelanos e entidades tecnicamente capacitados a realizar uma auditoria e verificar o resultado, primeiro Maduro e oposição precisariam concordar que essa pessoa ou organismo é confiável.
Um diplomata com experiência no terreno em Caracas afirmou que “dificilmente” se encontraria tal pessoa dentro da Venezuela. Lembrou ainda que, quem denuncia algo contrário aos interesses do regime, atualmente acaba preso ou torturado. Não haveria segurança para quem ouse declarar, dentro da Venezuela, um resultado que desagrade ao regime. Por isso a necessidade de ser alguém fora do país.
Entre as opções lembradas por diplomatas estão o painel de especialistas eleitorais das Nações Unidas, a missão de observação eleitoral da União Europeia, e até mesmo as autoridades eleitorais da Colômbia e do Brasil – o Tribunal Superior Eleitoral.
Cético, um deles lembrou que o regime de Maduro deve aceitar somente a “certificação” de países alinhados, que tendem a anunciar os resultados que eles querem e até já reconheceram a reeleição – “talvez os cubanos possam mandar sua comissão eleitoral, ou talvez Putin, os iranianos; a comissão eleitoral norte-coreana deve ser excepcional…”, ironizou.
Brasil, México e Colômbia pedem que o regime de Nicolás Maduro permita uma “verificação imparcial dos resultados” e destacam que “as soluções da situação atual devem surgir da Venezuela”.
Lula, Gustavo Petro e Andrés Manuel López Obrador tentam realizar uma chamada conjunta para discutir o assunto de forma virtual e depois fazer um telefonema, também em conjunto, para Maduro e para o candidato opositor. Os governos dos três países, deixaram de reconhecer imediatamente a anunciada reeleição do ditador, por 52% contra 43% do desafiante Edmundo González. Os números foram informados pelo CNE sem publicar evidências.
A oposição denunciou uma fraude, declarou-se vitoriosa com 67% em favor de González, contra 30% de Maduro, tendo difundido atas eleitorais coletadas por seus militantes. Desde então, há um impasse no país e na comunidade internacional.
Há uma cobrança ampla pela divulgação das atas. Mas, mesmo entre a chamada ‘tríade’, existem nuances, e a Colômbia destoa. O presidente colombiano Gustavo Petro já defendeu que seja realizado um escrutínio com contagem de votos não somente pelas facções políticas venezuelanas, mas sob “supervisão internacional profissional”.
Brasil e México resistem. Preferem defender apenas a necessidade de “imparcialidade” nessa verificação, sem estabelecer uma fórmula a priori de como deve ser realizada. Estaria, portanto, aberto aos dois lados decidir como, onde e quem faria a checagem.
Esse foi o argumento do Brasil para se abster e contribuir para derrubar uma resolução na Organização dos Estados Americanos (OEA), que inicialmente propunha a verificação na presença de observadores internacionais e no fim falava em “organizações de observação independentes”.
Quando disse que não havia nada de “grave” ou “anormal” na disputa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs que a oposição deveria dirimir a questão recorrendo à Justiça venezuelana. O problema, reconhecem os diplomatas, é que a cúpula da Justiça é alinhada ao chavismo, o que deixaria o desfecho ainda sob influência direta de Maduro. As informações são da AE.