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Por que o corte de 0,5 ponto percentual da taxa Selic na próxima reunião do Banco Central já subiu no telhado

A chance de um corte de 0,25 ponto percentual saltou de 4% para 50%. (Foto: Reprodução)

Os agentes econômicos estão revertendo rapidamente a expectativa de corte de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, em maio – ou seja, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC).

No mercado de Opções de Copom, da Bolsa de Valores (B3), no qual são feitas “apostas” sobre o tamanho dos cortes da taxa, a possibilidade de redução de 0,5 ponto percentual em maio caiu de 93% para 25%. Em paralelo, a chance de um corte de 0,25 ponto percentual saltou de 4% para 50%.

Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos, observa que, não só a perspectiva de diminuição de 0,5 ponto percentual desabou, como também aumentou a possibilidade de que simplesmente não ocorra corte da Selic em maio. “Ela está em cerca de 20%”, observou o especialista.

E o motivo dessa guinada do humor do investidores está no que o Banco Central chama de “balanço de riscos”. Ele deteriorou de forma expressiva – e veloz – na última semana, como resultado de três fatores, entre um interno e dois externos.

Na avaliação de técnicos, o elemento conjuntural mais importante dessa mudança de cenário é a perspectiva de corte de juros nos Estados Unidos cada vez mais improvável no curto prazo. Isso porque a atividade econômica continua dando sucessivos sinais de aquecimento no país e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não vai descansar enquanto não trouxer a inflação para a meta de 2%. Hoje, segundo o último dado disponível, ela está em 3,5%, considerados os últimos 12 meses.

Os juros altos nos EUA, atualmente no intervalo de 5,25% e 5,50%, tornam mais atrativos investimentos em títulos do Tesouro americano, em detrimento de aplicações em ativos com renda variável como as ações negociadas em Bolsa. Isso age contra os mercados de capitais de países emergentes como o Brasil e também pressiona o dólar para cima.

Outro fator que fez pender para o lado negativo o balanço de riscos foi a alteração da meta fiscal para 2025 e 2026, anunciada pelo governo federal nesta semana. O que era uma previsão de um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) se transformou em um déficit entre zero e, eventualmente, 0,25% do PIB no próximo ano. Quanto a 2026, a estimativa de saldo positivo das contas públicas caiu de 1% para 0,25% do PIB.

A mudança, na avaliação do economista Braulio Borges, do Centro de Política Fiscal e Orçamento (CPFO) do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV Ibre), “levantou sérias dúvidas do compromisso do governo de buscar alguma consolidação fiscal”, conforme o pesquisador mencionou no site do FGV Ibre.

Esta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) também piorou as projeções fiscais para o Brasil. Para a instituição, o País deve registrar déficits primários (saldos negativos entre despesas e receitas, sem contar o pagamento de juros da dívida) de 0,6% do PIB em 2024 e de 0,3% em 2025. Na última análise desse tipo, feita em outubro, esses números estavam negativos, mas eram menores. Ficaram em 0,2% para os dois anos.

Na visão do FMI, o Brasil só conseguirá zerar o déficit em 2026, no último ano do governo Lula. A partir de 2027, o país alcançaria um superávit de 0,4% do PIB. O saldo entre despesas e receitas do governo seguiria positivo até 2029, último ano das projeções.

Por fim, o terceiro elemento que comprometeu a relação de riscos foi o ataque do Irã a Israel, no último fim de semana. No caso, havia o medo de que uma escalada do confronto no Oriente Médio elevasse o preço do petróleo no mercado mundial. Tal avanço, contudo, não se confirmou, embora o temor não tenha sido totalmente afastado.

Juntos, esses três fatores – juros nos EUA, Oriente Médio e fiscal no Brasil – provocaram a alteração de uma quarta variável. A cotação do dólar disparou e atingiu R$ 5,26 no fechamento da terça-feira (16), o maior nível em mais de um ano.

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