Sábado, 15 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de fevereiro de 2025
A citação explícita da Casa Branca ao etanol brasileiro como exemplo de falta de tratamento recíproco mostra o foco dos Estados Unidos no biocombustível do Brasil, avaliam integrantes do governo. Pessoas que acompanham as tratativas relataram ao Estadão/Broadcast que se surpreenderam com a menção direta, mas observaram haver espaço para negociar com o governo americano quanto a barreiras comerciais e tarifárias. A “surpresa” se deve em parte ao fato de o Brasil ser deficitário na balança comercial com os EUA. O Executivo, no entanto, já esperava a pressão de Donald Trump sobre o etanol brasileiro.
Há anos, os produtores e fabricantes dos Estados Unidos pressionam o Brasil pela redução da tarifa de importação aplicada sobre o produto norte-americano, hoje de 18%, e reclamam de acesso restrito do biocombustível ao mercado brasileiro.
A ofensiva foi reforçada em 6 de fevereiro, quando, durante audiência no Senado americano, o indicado por Trump ao cargo de representante comercial do país (USTR, na sigla em inglês), Jamieson Greer, foi questionado sobre a tarifa de 18% das exportações americanas de etanol ao Brasil e respondeu que o assunto estava no topo de sua lista de prioridades.
Após o anúncio das medidas de reciprocidade, nesta quinta-feira, 13, a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA, na sigla em inglês), que representa a indústria de etanol nos Estados Unidos, agradeceu Trump “por seu compromisso em restabelecer uma relação comercial justa e recíproca para o etanol entre os Estados Unidos e o Brasil”.
“Há quase uma década, temos gastado tempo e recursos preciosos combatendo um regime tarifário injusto e injustificado imposto pelo governo brasileiro às importações de etanol dos EUA”, disse no comunicado o presidente e CEO da RFA, Geoff Cooper. “O mais irônico é que essas barreiras tarifárias foram erguidas contra o etanol americano enquanto nosso país tem aceitado — e até incentivado — importações de etanol do Brasil.”
O recado foi dado, diz integrante do governo brasileiro
O tema já estava no radar do governo brasileiro. A avaliação que corre nos bastidores é de que a redução tarifária era uma pauta permanente dos Estados Unidos, embora não houvesse até então novos sinais do governo americano em relação ao combustível. O Executivo monitorava a potencial ameaça quanto a produtos brasileiros. Agora, o recado foi dado, explica um integrante do governo que vinha acompanhando o assunto.
Na “fact sheet” (a ficha técnica com dados sobre a media) divulgado pela Casa Branca sobre a ordem executiva assinada por Trump para impor tarifas recíprocas a países que cobram taxas de importações sobre produtos norte-americanos, o chamado “Plano Justo e Recíproco”, o governo americano cita diretamente o etanol.
“Há inúmeros exemplos em que nossos parceiros comerciais não dão tratamento recíproco aos Estados Unidos. A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024 os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto os EUA exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil”, afirma a Casa Branca no documento. O Brasil é citado nesse “fact sheet” apenas em relação ao comércio de etanol.
Embora Trump alegue que o Brasil cobre caro de produtos americanos, integrantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva vêm tentando contrapor essa ideia, já que, para o Brasil, as trocas revelam uma realidade diferente das médias tarifárias.
Apesar de o País impor um imposto de importação médio de 11,2% sobre os produtos que chegam de fora — enquanto nos EUA esse nível é de 3,3% —, o que desembarca dos americanos aqui é com frequência tributado abaixo da média ou sem nenhum imposto em função do perfil das compras.
Além disso, citam que produtos relevantes para o Brasil no mercado americano têm tarifas muito altas, como é o caso do açúcar, carne bovina, carne de aves, suco de laranja, frutas, óleo de soja, tabaco e cachaça. As informações são do portal Estadão.