Quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de julho de 2015
No ano passado, no Japão, mais de 25 mil pessoas cometeram suicídio. Isso dá uma média de 70 por dia. A maioria delas, homens. Estes números não representam a maior taxa de suicídio entre países desenvolvidos – o título ainda cabe à Coreia do Sul, com uma média anual de 28,9 suicídios por 100 mil habitantes. Mas estão muito acima de outras nações ricas. O índice japonês de 18,5 suicídios para cada 100 mil habitantes é, por exemplo, três vezes o registrado no Reino Unido (6,2) e 50% acima da taxa dos Estados Unidos (12,1), da Áustria (11,5) e da França (12,3). O assunto voltou a ter destaque com a autoimolação de um homem de 71 anos em um trem-bala em julho.
Agora, conforme seu passado começa a ser investigado pela mídia japonesa, surgem sinais de se tratar de um homem no limite. Ele vivia sozinho e não tinha emprego. Passava os dias coletando latas de alumínio para vendê-las para reciclagem. Vizinhos disseram a repórteres que o ouviram quebrar uma janela ao se trancar do lado de fora de seu apartamento dilapidado. Outros afirmaram raramente tê-lo visto fora de casa, mas ouviam com frequência a televisão ligada. Pobre, com idade avançada e sozinho. É um caso bastante familiar no país. “O isolamento é o fator número um que antecede a depressão e o suicídio”, diz o psicólogo Wataru Nishida, da Universidade Temple, em Tóquio (Japão). “Os filhos costumavam cuidar de seus pais no Japão, mas isso não ocorre mais.”
Honra.
Muitas pessoas costumam citar uma antiga tradição de “suicídio em nome da honra” para a alta taxa do país. Elas citam, por exemplo, a prática samurai de cometer “seppuku” e dos jovens pilotos “kamikazes” de 1945 para explicar por que razões culturais tornam os japoneses mais propensos a tirar suas próprias vidas. De certa forma, Nishida concorda com este ponto de vista: “O Japão não tem história de Cristianismo. Então, o suicídio não é um pecado. Na verdade, alguns encaram como uma forma de assumir responsabilidade por alguma coisa”. Mas não são apenas os idosos homens com problemas financeiros que estão tirando suas vidas. O índice vem crescendo rapidamente entre homens jovens, fazendo com que o suicídio seja a principal causa de morte entre os homens japoneses com idades entre 20 e 40 anos. E as evidências apontam que estes jovens estão se matando porque perderam completamente a esperança e são incapazes de pedir ajuda. Os números cresceram após a crise financeira asiática de 1998 e aumentaram novamente após a crise financeira mundial de 2008.
Especialistas acreditam que estes aumentos estão ligados a um crescimento das “condições precárias de emprego”, em que jovens são contratados por curtos períodos de tempo. A ansiedade causada por problemas financeiros e a instabilidade no trabalho é reforçada pela cultura japonesa de não reclamar. “Não há muitas formas de expressar raiva ou frustração no Japão”, diz Nishida. E a tecnologia pode estar piorando esta situação, ao aumentar o isolamento dos jovens. O Japão é famoso por uma condição conhecida como “hikkimori”, um tipo de isolamento social grave. O jovem nesta situação pode se fechar completamente ao mundo, permanecendo em um quarto por meses ou mesmo anos. A maioria deles são homens.
Para agravar a situação, o sistema de saúde para doenças mentais também é ruim. Faltam psiquiatras, e não há qualquer tradição destes profissionais trabalharem junto com psicólogos. O próprio mercado de psicologia do Japão é uma bagunça. Ao contrário de outros países, não há um sistema de ensino estabelecido pelo governo nem para qualificação profissional de psicólogos clínicos. Qualquer um pode ser apresentar como tal, e é muito difícil saber se quem presta este tipo de serviço sabe o que está fazendo. (AG)