Quinta-feira, 02 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2024
Para muitos, esse período pode ser emocionalmente difícil, especialmente se não tiveram um ano muito bom.
Foto: FreepikDezembro é conhecido como o mês de despedida e renovação. Em geral, as pessoas estão felizes, celebram as festas, reavaliam o ano que passou, estabelecem novas metas para o novo ciclo, e fazem uma reflexão pessoal do que querem e precisam mudar, e sobre quem querem ao lado. Porém, nem todo mundo se identifica com essa felicidade.
Os psiquiatras advertem: dezembro é um dos meses do ano em que eles mais trabalham. São inúmeros novos casos de pacientes com crises de ansiedade e depressão. E, nas pessoas já diagnosticadas com problemas de saúde mental, há um aumento de crises severas.
O crescimento ocorre principalmente depois do Natal e perdura até o início de janeiro. No meio médico essa condição é chamada de “dezembrite”, ou doença de dezembro, conhecida popularmente como a “Síndrome do final de ano”.
Para muitos, esse período pode ser emocionalmente difícil, especialmente se não tiveram um ano muito bom, seja no âmbito pessoal ou no profissional. São pessoas que perderam entes queridos, passaram por rompimentos, doenças, dificuldades econômicas ou, simplesmente, não realizaram seus sonhos e acabam relembrando experiências que queriam ter esquecido. Criam-se camadas de angústias e ansiedade que, quando não tratadas, podem levar a quadros mais graves de depressão.
“O ciclo anual é arbitrário. Os últimos dias de dezembro são aqueles em que as pessoas refletem sobre a vida delas e isso gera angústia. É como uma casa que passa o ano inteiro sem uma limpeza e, quando você estimula essa limpeza, a poeira levanta”, explica o psiquiatra Arthur Danila, coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Segundo o médico, é uma convocação feita pela própria sociedade: “As pessoas publicam nas redes sociais o quanto estão felizes, começam a fazer uma retrospectiva das coisas boas que aconteceram e quem já está fragilizado, quem não teve um bom ano por inúmeros fatores, acaba se espelhando no que vê e começa a rever o que houve de errado na sua vida, gerando uma crise de ansiedade”, completa.
Outro fator para o aumento de crises de depressão, ansiedade e angústia nessa época do ano são os encontros familiares. Laços entre membros da mesma família podem ter sido quebrados e interrompidos. Ter que permanecer ao lado dessa pessoa, mesmo que por algumas horas, pode libertar sentimentos ruins guardados há tempos, se transformando em raiva, agressividade e aversão.
“Este ritual, estar ao lado de pessoas que você não queria, ofende o emocional das pessoas. Ela ainda não elaborou esses laços, ainda há um rancor, um desrespeito. Isso tudo, somado a essa felicidade que precisa ser demonstrada muitas vezes de forma que não é real, faz a pessoa ficar mais irritada, reativa, violenta e desconfortável. Ano novo você é obrigado a olhar para o que estar por vir, para o futuro, ao mesmo tempo que olha o passado. Isso pode não trazer felicidade nenhuma, sendo inclusive muito dolorido para muitas pessoas”, afirma a psiquiatra Camila Magalhães, especialista em transtornos do humor, além de fundadora da clínica Caliandra Saúde Mental.
(AG)