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Olimpíada Entenda por que os Jogos Olímpicos deixaram de ser realizados por quase 15 séculos

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A principal competição do mundo teve origem na Grécia clássica por volta de 776 a.C., em Olímpia, de onde veio o nome dos Jogos. (Foto: Divulgação)

O lema olímpico “Citius, Altius, Fortius – Communiter” (mais rápido, mais alto, mais forte – juntos) voltará a ecoar nesta sexta-feira (26), quando os 33º Jogos Olímpicos serão inaugurados “em grande estilo” – como prometem os organizadores – em Paris, na França.

Durante pouco mais de duas semanas, os olhos do mundo estarão voltados para os 10.500 atletas de 206 delegações que competirão nas 45 modalidades disputadas na “cidade luz” e nas outras sedes. O Comitê Olímpico Internacional (COI) afirma que estes Jogos serão diferentes.

Será a primeira vez na história que haverá uma participação igualitária de 50% de homens e 50% de mulheres. Esse marco de igualdade é alcançado 128 anos após o aristocrata francês Charles Pierre de Frédy, o barão de Coubertin, ter promovido o renascimento de uma tradição milenar que ficou interrompida por quase 15 séculos.

A principal competição esportiva do mundo teve origem na Grécia clássica por volta de 776 a.C., especialmente na cidade de Olímpia, de onde veio o nome dos Jogos. Os jogos, que duravam uma semana, eram realizados a cada quatro anos em Olímpia e também em outras localidades gregas como Delfos, Corinto e Nemeia.

“Nos seus primórdios, a competição incluía pelo menos seis provas: corrida de carros ou quadrigas, corridas a pé, lançamento de pesos, luta corpo a corpo, salto em distância e lançamento de dardo”, explicou Gonzalo Bravo, catedrático emérito de História Antiga da Universidade Complutense de Madri, na Espanha.

A importância do culto ao corpo e a emoção que envolvia essas competições, nas quais as regras eram poucas e havia a possibilidade de morte para os atletas, transformaram os torneios no “ponto culminante do calendário grego antigo durante quase 12 séculos”, conforme descrito no site do COI.

As façanhas dos atletas consolidaram a popularidade dos Jogos Olímpicos. Entre os destaques da história estão os feitos de Mílon de Crotona, que, além de ser aluno do filósofo e matemático Pitágoras, conquistou seis títulos na luta apenas em Olímpia. As doze vitórias de Leônidas de Rodes, ao ganhar o mesmo número de corridas durante quatro Olimpíadas consecutivas, o tornaram um herói para seus compatriotas.

Após a conquista da Grécia por Roma em 168 a.C., o império preservou e incorporou muitas das tradições gregas, incluindo os Jogos Olímpicos. No entanto, esses jogos sofreram alterações que, segundo alguns especialistas, acabariam por selar seu destino.

“Os romanos adotaram os jogos, mas incluíram novos cenários (circo, teatro e anfiteatro) e também novas razões para celebração (festas religiosas ou estatais, como aniversários dos imperadores ou triunfos militares)”, explicou o professor Gonzalo Bravo.

A partir de então, as competições deixaram de ser exclusivas para os gregos e passaram a contar com a participação de homens de outras nacionalidades, incluindo imperadores como o controverso Nero.

“Com o tempo, os jogos acabariam sendo monopolizados pela família imperial e financiados com dinheiro público”, acrescentou Bravo.

Originalmente, os recursos para custear os eventos vinham das famílias abastadas de Olímpia e dos tributos arrecadados pelo templo de Zeus entre os fiéis. Atualmente, os Jogos Olímpicos são sinônimos de uma celebração em que os melhores atletas do mundo colocam à prova anos de treinamento e sacrifício, medindo suas forças e resistência. No entanto, originalmente eram muito mais do que isso.

“Na Grécia antiga, os jogos eram sempre realizados em homenagem a um deus (Zeus em Olímpia e Nemeia) ou a outras divindades do panteão grego, a quem se oferecia um sacrifício ao final das competições”, lembrou Bravo.

A carga religiosa que envolvia os jogos é apontada como a causa de sua interrupção, e, por séculos, essa responsabilidade foi atribuída ao imperador romano Teodósio 1°. O próprio barão de Coubertin refletiu sobre essa acusação.

“Um espanhol fanático, o imperador Teodósio 1°, consumido pela fúria contra o atletismo, que busca a beleza corporal, e contra o Helenismo, que representa a razão e o livre exame, publicou um edito que proibiu a celebração dos Jogos, lançando sobre Olímpia a pesada sombra do esquecimento”, escreveu o aristocrata em referência aos oitavos Jogos Olímpicos modernos realizados, como agora, na capital francesa em 1924.

Diversos autores apontam os éditos de Tessalônica e Constantinopla, ambos emitidos pelo soberano, como responsáveis por pôr fim à milenar tradição. Na primeira decisão, de 380 d.C., o cristianismo foi declarado a religião oficial do império, e na segunda, de 393 d.C., a veneração de outras divindades foi proibida.

No entanto, os especialistas consultados acreditam que essa acusação não é totalmente fundamentada.

“As pesquisas refutaram a ideia de que os éditos proibiram a celebração dos jogos, pois não há evidências de que eles tenham cessado em 393 d.C.”, afirmou o historiador Marco Alviz Fernández à BBC Mundo.

O especialista em História Antiga da Universidade Complutense de Madri também afirmou que “alguns imperadores continuaram a financiar esses eventos atléticos até o início do século 5°”.

Essa visão é corroborada pelo próprio COI. “O imperador Teodósio 1° proibiu a celebração de cultos pagãos, incluindo os Jogos Olímpicos. No entanto, a popularidade das competições esportivas e das festividades culturais continuou em muitas províncias do império romano de influência grega”, afirma o site do COI.

 

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