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Por que Porto Alegre não tem turistas?

Há uma consciência pública generalizada de que Porto Alegre não é uma cidade turística. No entanto, a cidade tem muitos atrativos, porém, dizem que estes não atraem quem vem de fora a lazer. Quando nos colocamos no lugar de um turista e saímos a passear na capital gaúcha, logo percebemos que o motivo pelo qual temos poucos visitantes não é a falta de lugares para visitar: temos a orla do Guaíba, dois estádios de campeões mundiais, centro histórico, museus, parques, centros culturais, shoppings, gastronomia de primeira linha, entre outros. Porém, os problemas da cidade e das regulações criam uma experiência ruim para o turista, e os poucos que recebemos são espantados para nunca mais voltarem.

Me lembro da Porto Alegre de 2013, que estava virada às avessas cheia de promessas de melhorias. Novas avenidas, viadutos e calçadas a serem construídos, novas placas de sinalização, planos de melhorias para o trânsito, como as trincheiras da Anita Garibaldi e da Cristóvão Colombo, a resolução dos problemas de trânsito da rodoviária. De todos os projetos para mostrar uma cidade bonita e organizada para os visitantes de diversas partes do mundo, poucos foram entregues a tempo, muitos foram mal feitos (em curto prazo tiveram que ser refeitos) e outros tantos demoraram anos para serem concluídos, ou nem isso. Dos visitantes que vieram para Porto Alegre logo depois da Copa do Mundo de 2014, certamente muitos se decepcionaram com o que viram.

A intervenção do Estado atrapalha muito o turista. Nos verões passados, quando os argentinos não estavam sofrendo nas mãos do governo socialista, Porto Alegre virava um ponto de parada obrigatória para nossos hermanos em férias rumo às lindas e bem cuidadas praias de Santa Catarina. Traziam seus bolsos cheios de dólares, porém encontravam logo um problema: estabelecimentos comerciais não podem aceitar moedas estrangeiras, exceto se tiverem autorização do Banco Central. Ou seja, eles não podem pagar suas contas em hotéis, restaurantes e lojas em dólares ou pesos.

Se o turista tentar obter um chip de celular, para se comunicar melhor, compartilhar e divulgar nas suas redes sociais as experiências que está vivendo na cidade, passará dificuldades. Começa uma batalha de burocracias, ligações em português para as empresas telefônicas, exigências para habilitar a linha. O mercado de telecomunicações no Brasil é altamente regulado pela Anatel, que impõe diversas barreiras, um dos motivos pelos quais estamos tão atrasados.
Então, o turista buscará se locomover pela cidade. Ao chegar à recepção do hotel e perguntar como ir a determinado ponto turístico, nenhum recepcionista em sã consciência indicará que vá a pé ou pegue um ônibus. “Vá de transporte de aplicativo”, dirá o atendente. Se for de transporte público, terá uma viagem insegura e desconfortável.

Se o nosso visitante buscar informações turísticas, a probabilidade de encontrar um centro de informações é baixíssima: temos hoje apenas dois na cidade. Se tiver sorte de encontrar um desses, irá se deparar com um local despreparado e com pouco material informativo.

Ao chegar à orla do Guaíba, verá uma parte linda, recém-inaugurada. Ao percorrer mais um pedaço, verá que não foi acabada, pois os processos burocráticos não permitiram que fosse finalizada. E o porto de Porto Alegre? Grandes galpões abandonados, em vez dos exemplos de cidades como Buenos Aires, Lisboa ou Barcelona.

Porto Alegre está em péssimo estado. Ruas esburacadas, lixo esparramado nas vias, pessoas pobres tendo que viver nas ruas, prédios tombados quase caindo nas calçadas, insegurança para andar de dia e à noite, lojas nas ruas com placa de aluga-se e pontos turísticos malcuidados, com pichações e sem sinalização. É uma péssima impressão para quem chega.

Porto Alegre é uma cidade linda, com museus, parques, shoppings, espaços abertos. O turismo movimenta cidades, lota hotéis e restaurantes, aumenta o fluxo nos shoppings, gerando empregos e receita. Para que nossa cidade possa usufruir dos inúmeros benefícios do turismo, o governo tem que sair de cena. As barreiras ainda impostas pelo Estado dificultam que o turista tenha uma experiência, no mínimo, decente na nossa cidade.

Fernanda Estivallet Ritter, hoteleira e associada do IEE

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