Em apenas um mês, Portugal registrou 2.830 mortes a mais que sua taxa normal. No período entre 18 de dezembro e 14 de janeiro, o país teve um aumento de 28% na mortalidade, o maior entre os membros da União Europeia, de acordo com o site europeu de vigilância da mortalidade EuroMomo. Segundo especialistas, a circulação do vírus da gripe no continente e a superlotação dos hospitais portugueses podem ser as principais razões.
De acordo com informações divulgadas pelo jornal português Expresso, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), “foi estimado um excesso de mortalidade de 28%” entre as datas registradas. Nesta época do ano, o frio, a gripe e a circulação de outros vírus respiratórios são um cenário comum na Europa, no entanto, os índices portugueses fugiram do padrão.
“A circulação do vírus da gripe na Europa começou a aumentar nas últimas semanas de 2023, parecendo existir alguma evidência de maior precocidade na ocorrência da epidemia em Portugal do que nos outros países europeus. Sendo as epidemias de gripe geralmente associadas a aumentos de mortalidade, este fator pode estar na base das diferenças na mortalidade entre os vários países”, indica o Departamento de Epidemiologia do INSA.
A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANSMP) também considera que a superlotação das alas de urgência dos hospitais e as equipes reduzidas podem ter comprometido o serviço de assistência, contribuindo para os níveis elevados de mortalidade.
“Como tínhamos equipes reduzidas e serviços limitados, não foi possível chegar a todos a tempo”, garantiu Gustavo Tato Borges, Presidente da ANSMP. “Por mais que os profissionais de saúde tenham trabalhado, a dificuldade de acesso pode ter condicionado alguma parte desta mortalidade.”
Segundo Borges, Portugal pode já ter ultrapassado o pico da gripe. O especialista considera que o país pode ter atingido o ponto mais alto da epidemia antes dos demais, que ainda estariam na fase crescente da doença.
Alerta
A delegação europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, na última terça-feira, sobre o aumento de casos de gripe em vários países nas últimas semanas. Os especialistas demonstrou preocupação, especialmente, com o excesso de demanda nos hospitais, que tende a aumentar até o fim do inverno.
“Estamos preocupados com as informações sobre pressões localizadas em hospitais e sobrelotação em urgências, devido a confluência dos vírus respiratórios que estão a circular”, afirmou, em conferência de imprensa, o diretor da OMS na Europa, Hans Kluge.
No continente, que compreende 53 países, as hospitalizações por gripe aumentaram 58%, nas últimas semanas. O número de pacientes com necessidade de cuidados intensivos também subiu cerca de 21%. Os grupos mais afetados são os maiores de 65 anos e as crianças pequenas.
“Vemos uma grande intensidade de infeções por gripe em vários países da região. Os sistemas de saúde devem estar prontos para um provável aumento de casos de gripe nas próximas semanas”, alertou Kluge.
O diretor ainda sublinhou que, além da gripe e da covid-19, confluíram nestas semanas também o vírus respiratório sincicial humano (VRS), além de outros patógenos como micoplasmas e sarampo, que afetaram sobretudo as crianças.
“Os índices de VRS alcançaram o pico antes do Ano Novo e estão caindo, os de covid-19 continuam elevados, mas começando a abaixar, e os da gripe estão crescendo rapidamente”, afirmou Kluge, destacando que essa tendência não é necessariamente “fora do normal”.