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Positividade tóxica

Do total de atendimentos, 75% foram de pacientes mulheres. (Foto: Freepik)

“A Ali só pode estar louca, iniciar a coluna do dia do Natal com um tema totalmente contraditório ao que a data propõe, que é alegria, felicidade e amor.”

Ah, pois é.

Exatamente por isso, meu caro leitor. Aproveito essa oportunidade para tirar a carga dos ombros de tantas e tantas pessoas que, não basta os problemas diários, ainda se sentem sufocados pela pressão de estarem bem. Ser grato. Pensar positivo. Você consegue o que você atrai.

Ué? Mas não foi exatamente esse o tema da coluna passada: gratidão? Foi. E faço questão de destacar que eu acredito nisso tudo, sim. Mas, entre o pico da tristeza e a colina da felicidade, há um vale nem sempre ensolarado no caminho… Precisamos aceitar o fato de que nem sempre estamos bem, e esse vazio, não raro, fica ainda mais presente em datas que nos impõe a obrigação de estar feliz.

Dia desses, me peguei lendo um desses livros…gratidão, gratidão, gratiluz. Mas eu não estava bem. O coração apertado, angustiado com muitas questões práticas para resolver. Cabeça a mil. Uma nuvem cinza pairava sobre mim. E eu lia aquelas palavras e pensava “afffffffff, não é possível!”.

A chamada positividade tóxica é, exatamente, o excesso de informações que fazem com que nos sintamos obrigados a pensar apenas – adivinha? – positivamente em qualquer situação, empurrando os sentimentos para baixo do tapete. Como se uma Pollyana tirana invadisse o nosso ser e impusesse as suas condições. Por mais contraditório que seja, isso, claro, também não é positivo. O excesso de qualquer coisa, nós sabemos, não costuma ser benéfico.

Aceitar que somos imperfeitos é um dos passos mais importantes na nossa jornada. Compreender que não atingimos as metas estabelecidas, que erramos, que não conseguimos manter a sensação de plenitude continuamente ou aceitar que somos humanos e sofremos, sim, por falta de dinheiro, coração partido, perda de oportunidade. Isso tudo é da vida, e a não ser que optemos por viver como eremitas meditando no topo da montanha, as dores acontecerão. Negá-las é impossível. Daí porque há o entendimento de que a ideia de que devamos estar SEMPRE impondo um pensamento positivo sobre um negativo pode ser danosa. É como uma bomba relógio, só esperando a hora de explodir e jogar todas aquelas emoções pro espaço!

Penso que aceitar nossa tristeza é de extrema importância. Eu, por exemplo, gosto de chorar. Não porque gosto de estar triste, pelo contrário, mas porque é a forma fisiológica de, efetivamente, extravasar. Tudo fica mais leve, pois você se entregou à emoção.

Felizmente, vivemos em um momento de intenso conteúdo de autoajuda. Isso é maravilhoso, pois significa que as pessoas estão sentindo a necessidade de buscar respostas. Há uma onda real por maior espiritualidade. Eu acredito, de verdade, que a humanidade está evoluindo como um todo (ok, tem aqueles que atrasam o grupo…). Que bom!

Contudo, não tem saída fácil: há que se viver a sua jornada, mesmo com os percalços. Um sapato confortável, porém, ajuda, e esse calçado é o autoconhecimento. Compreender as suas peculiaridades e entender suas próprias nuances. Perceber as idiossincrasias de si mesmo e decidir por qual lado trilhar. Reconhecer que, eventualmente, você não está 100% mesmo – mas saber o que te faz “virar a chave” para que, aí sim, você possa acelerar e acertar o rumo.

Dizem que terapia é muito cara, mas qual é o valor da sua saúde mental? Todos deveríamos nos tratar (ups, preciso mandar um whats pra minha psicóloga), mas, sinceramente, se há a intenção de olhar pra dentro de si, outros meios também podem funcionar: terapia holística, livros, meditação, mesmo uma conversa com um bom amigo. Olhar para dentro de si e se compreender, mesmo nos pontos mais escuros.

No apagar das luzes desse ano tão intenso de 2022, quem sabe não é essa a melhor resposta? E nem sou eu que estou dizendo: isso é coisa lá do Sócrates, aquele esperto.

“Conhece-te a ti mesmo” e tenha um Feliz Natal.

Ali Klemt

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